O presidente e co-fundador da Frente de Libertação do Enclave de Cabinda / Forças Armadas de Cabinda (FLEC/FAC), Nzita Henriques Tiago, falecido nesta sexta-feira, 3, em Paris, França, é uma lenda política e tradicional.
A opinião é do jornalista português Rui Neumann, radicado na capital francesa e profundo conhecedor da realidade de Cabinda e do próprio "líder histórico".
Natural de Mboma Lubinda, Cabinda, Nzita Tiago, nasceu a 14 Julho de 1927 e participou em 1963 na criação da FLEC em Ponta Negra, República Democrática do Congo, tendo assumido a vice-presidência.
Ao contrário do então presidente da FLEC Luís de Gonzague Ranque Franque, que defendia uma linha diplomática, Nzita Tiago apostou sempre na via militar, lembra Neumann.
"Nzita torna-se o guerreiro, o chefe da guerrilha por excelência de Cabinda e o fio condutor, desde a criação da Flec até à sua morte”, afirmou aquele jornalista à VOA, lembrando que os diferentes chefes de guerrilha na região passaram pelas mãos de Nzita.
"Ele passou a ser quase como um pai para eles, que mesmo o reconheciam como tal”, explica Neumann, que destaca o facto de Nzita ter liderado a guerrilha que assumiu os chamados territórios libertados e controlados, em cerca de 80 por cento, pela FLEC nos anos de 1980.
“Nzita Tiago tornou-se uma lenda em Cabinda, tanto do ponto de vista político como do ponto de vista tradicional”, conclui Rui Neumann.
A FLEC resultou da fusão do Movimento para a Libertação do Enclave de Cabinda, o Comité de Acção da União Nacional de Cabinda e a Aliança Nacional Mayombe.
Nzita esteve preso entre 1970 e 1974 pela polícia secreta portuguesa PIDE na cadeia de São Nicolau, em Luanda.
Desde a independência de Angola, em 1975, a FLEC exige o cumprimento do Tratado de Simulambuco, assinado em 1885, segundo o qual Cabinda é um protectorado português ocupado por Angola.