O Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, lançou uma iniciativa destinada a combater a corrupção, que nos últimos anos, lesou o Estado em cerca de cinco mil milhões de dólares, mas analistas dizem que o que pretende é recuperar a confiança que o país perdeu perante os doadores, por causa das dívidas ocultas.
Nyusi lançou a iniciativa na sua visita à província de Gaza, momentos depois de ter inaugurado o Tribunal Judicial distrital de Massingir, fundamental nessa perspectiva governamental, no sentido de que os tribunais, juntamente com os magistrados devidamente capacitados, podem ser determinantes na luta contra a corrupção.
O estadista moçambicano afirmou que o Governo, no âmbito da iniciativa "um distrito, um tribunal judicial", quer adoptar uma política de prevenção e combate à corrupção, que garanta que todas as instituições públicas e privadas "atuem em consonância e como uma frente comum".
Outros tribunais judiciais foram inaugurados nos distritos que Filipe Nyusi visitou, nos últimos dias, marcando o reatamento das presidências abertas pelas diferentes províncias do país.
Nyusi avançou que "sem o combate à corrupção, não é possível termos uma sociedade integra, guiada por princípios da transparência, porque a corrupção continua a interferir de forma negativa na vida dos moçambicanos".
Luta a todos os níveis
Analistas dizem esperar que as declarações do Chefe de Estado não fiquem apenas ao nível da retórica e, sobretudo, que o combate à corrupção seja feito a todos os níveis.
"É muito difícil combater a corrupção a todos os níveis, porque passa por muitos fatores de natureza económica e social, valores na sociedade, poder, e não estou a ver que haja uma ação de educação da cidadania e de discursos consequentes, para que haja um mecanismo de controlo e avaliação a todos os níveis", afirmou o economista João Mosca.
Para o editor Fernando Gonçalves, é preciso olhar para questões que sustentam a corrupção em Moçambique, por exemplo, obras de má qualidade como aquela que Filipe Nyusi se recusou a inaugurar, há dias, em Inhambane.
Entretanto, o analista Fernando Lima diz notar algum esforço por parte das autoridades governamentais para combater a corrupção, como forma de melhorar as relações de Moçambique com a comunidade internacional, bastante abaladas pela crise das dívidas ocultas.
Dados oficiais indicam que nos primeiros seis meses do presente ano foram acusados 340 processos ligados à corrupção no país, e que de 2002 a 2014, esta prática lesou o Estado em cerca de cinco mil milhões de dólares.
A fraca capacidade institucional para fiscalizar a implementação da legislação é apontada como um dos constrangimentos na luta contra a corrupção em Moçambique.