O Presidente moçambicano, Felipe Nyusi, diz que a academia e todas as outras instituições de ensino superior devem apresentar às Forças de Defesa e Segurança (FDS) soluções científicas para fazer face aos desafios que perigam a soberania e a integridade territorial, incluindo o terrorismo em Cabo Delgado.
Analistas políticos e investigadores dizem que o Chefe de Estado está a falar de algo que ele sabe ser difícil de fazer, porque o Governo não investe na investigação, e nesta matéria, Moçambique está muito atrasado.
Nyusi, falando na graduação de oficiais das Forças Armadas Moçambicanas, no Instituto Superior de Estudos de Defesa, em Maputo, disse que não há nada que não se faz cientificamente e a arte militar é também um acto científico.
"Temos a Academia Militar, a Academia de Ciências Policiais (ACIPOL) e outras instituições que têm a missão de apresentar às Forças de Defesa e Segurança e ao país, soluções científicas para fazer face aos novos desafios que perigam a ordem e segurança públicas, bem como a soberania e integridade territorial", afirmou o estadista.
Onde está o dinheiro?
"Mas quanto dinheiro o Estado gasta nessas instituições para fazerem a investigação"?, interroga-se o sociólogo Moisés Mabunda, acrescentando não saber qual é o orçamento alocado às academias militares e universidades públicas moçambicanas, "mas por aquilo que temos ouvido dessas instituições, esse orçamento é exíguo".
O especialista em assuntos de segurança na Universidade Joaquim Chissano Calton Cadeado diz ser verdade que Moçambique tem poucas pessoas para fazer investigação, mas o elemento fundamental é o dinheiro que o Estado gasta em pesquisa para o desenvolvimento.
Ele realça que, se calhar, o Chefe de Estado, "com muito boa vontade, está a dizer uma coisa que, na prática, é difícil de se fazer, o que nós fazemos é uma investigação para nós próprios, mas em termos de infraestruturas e condições para nós investigarmos, ainda estamos muito atrasados, sobretudo quando são assuntos de defesa e segurança".
Mas pode-se fazer mais
Cadeado anota que outros países têm orçamentos equiparados quase a Orçamentos de Estado "só para fazer pesquisas de desenvolvimento".
Por seu lado, o também especialista em assuntos de segurança no Instituto de Estudos de Defesa e Segurança de África, Borges Namirre, considera que com o investimento que tem sido feito, a academia podia contribuir mais, principalmente para o público.
Ele faz notar que em Moçambique existem instituições especializadas, como a Academia de Ciências Policiais, a Academia de Altos Estudos Estratégicos, a Universidade Joaquim Chissano e a Academia Militar Samora Machel, entre outras, "mas essas instituições não estão a fazer muita investigação".
Namirre diz que neste momento, a sociedade civil e organizações não governamentais é que contribuem mais na pesquisa, há espaço para as academias contribuirem mais, indepentemente do que dinheiro que possam ter ou não.
Para aquele investigador o dinheiro nunca é suficiente, "mas com aquilo que as academias têm, podiam fazer alguma investigação, neste momento o que estão a fazer é quase zero, o trabalho de campo não estão a fazer e não é uma questão de dinheiro, é uma questão de decisão para começarem a fazer".
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