Economistas moçambicanos alertam que, a menos que sejam tomadas medidas arrojadas, que permitam, sobretudo, a redução do custo de financiamento, que inibe o crescimento dos sectores produtivos e a diversificação da economia, vai ser extremamente difícil aumentar as exportações, como pretende o Presidente de Moçambique.
Este posicionamento de Filipe Nyusi surge depois de ter sido questionado sobre como seu Governo enfrenta o desafio da dívida pública durante um debate nos encontros anuais do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD) no Gana.
Ele afirmou que a melhor forma de combater o endividamento "é não contrair muitas dívidas, e um país não contrai muitas dívidas quando aumenta a produção e as exportações e importa menos".
"Como é que podemos aumentar a produção e as exportações se não investimos na diversificação da economia e não conseguimos financiar os sectores primário e secundário, que são aqueles que oferecem a base para diversificar a economia e aumentar as exportações", interroga-se o economista Francisco Sitoi.
A economista Leila Constantino, diz, por seu turno, que a economia moçambicana corre sérios riscos por depender, excessivamente do gás.
"Eu penso que é problemático falar de aumentar as exportações sem diversificar a economia", sublinha a economista, acrescentando ser um enorme risco o facto de a economia nacional passar por uma alta dependência relativamente ao gás.
"É fundamental diversificar o tecido económico; Moçambique tem vantagens competitivas no sector agrícola e devia apostar nele para diverssificar a economia; pode-se também apostar na agro-indústria, em vez de direccionar, grandemente, os esforços no sector extractivo que representa um alto risco para o país", consideroa Constantino.
Por seu lado, o economista Eduardo Sengo diz que Moçambique, se quiser aumentar as suas exportações, deve apostar em sectores onde tem algumas potencialidades em termos de vantagens competitivas e alguma exclusividade sob o ponto de vista de abrangência.
Ele refere que esses sectores são a agricultura, transportes e infraestruturas, cujo crescimento permite uma maior adição de valor à economia; os produtos que saem da agricultura, por exemplo, podem gerar exportações e emprego.
"O mais importante nisto tudo é como estes sectores podem crecer"?, interroga-se Eduardo Sengo, para quem, "claramente, estes sectores estão reféns da política de financiamento, do acesso ao mercado e infraestruturas".
Para o também economista António Francisco, não é possível diversificar a economia num país com problemas de desestabilização militar no norte e de raptos de empresários nas zonas sul e centro do país.
"No sul", considera, "é um terror o rapto de empresários, e este assunto nunca foi resolvido".
"Para além disso", realça António Francisco, "o Estado é que tem vindo a fortificar-se, em vez de fortalecer as empresas privadas".