Aldeias e troços de estrada do distrito de Mecula, alvo de ataques de homens armados nas últimas semanas, estão a registar uma especulação inédita de bens e serviços, sobretudo de alimentos e de transporte de passageiros, sufocando a população que tenta fugir das investidas do grupo supostamente filiado ao Estado Islâmico.
Após o primeiro ataque na província de Niassa, que ocorreu a 28 de Novembro, contra a aldeia Naulala, e o segundo a 9 de Dezembro, no mesmo distrito de Mecula, os preços de bens e serviços nas aldeias e troços de estrada atacados dispararam, chegando até cinco vezes mais alto que os praticados anteriormente.
As carinhas caixa aberta e semi-colectivos de transporte de passageiros deixaram de circular após ataque e saque a uma das viaturas no troço entre a aldeia Naulala 1 e a sede de Mecula, distrito colado a Mueda, em Cabo Delgado, epicentro do conflito.
“Os carros já não aparecem, e os poucos que circulam deixaram de partir as duas horas de madrugada e já saem às seis horas para Marrupa”, disse à VOA Zuneide Rafik, um morador local, para quem isso tem originado a especulação de preço de quem tenta fugir dos novos ataques do grupo.
“Os carros que aparecem são alugados para levar os bens das pessoas que tentam se mudar para Lichinga”, acrescentou, enquanto estava pendurado em cima de trouxas duma carrinha caixa aberta a transferir para Lichinga.
Os ataques provocaram igualmente a escassez de alimentos, o que abriu espaço para a especulação de preços, chegando o preço da farinha de milho e açúcar quase cinco vezes mais.
“Não esta fácil quem quer sair para lugar seguro. Muitos agora estão a se antecipar, como medo de ser como foi em Cabo Delgado”, disse Rita Celestina, outra moradora de Mecula, agora refugiada em Lichinga, onde igualmente estão a chegar outros deslocados.
Ataques e deslocados
Uma fonte ligada ao governo local, que pediu anonimato, disse à VOA que 600 pessoas deslocadas de Naulala continuam alojadas nas salas de aula da escola primaria completa na sede do distrito de Mecula, recebendo parte do apoio das autoridades locais.
Apesar da presença significativa das Forças de Defesa e Segurança, continua a registar-se saída massiva da população, sobretudo nas áreas próximas as aldeias atacadas, muitas delas já abandonadas.
Na semana passada, um terceiro ataque do grupo matou duas pessoas na aldeia de Lichengue, além da destruição por fogo de várias palhotas e residências, nas aldeias Nampequesse e Naulala.
Entretanto, o comandante da Policia, Bernardino Rafael, disse na segunda-feira que o líder terrorista foi morto por uma patrulha de reconhecimento combativo das Forças de Defesa e Segurança, em Mecula.