Os protestos que emergiram em várias cidades moçambicanas na segunda-feira, 23, horas depois de o Conselho Constitucional confirmar a vitória da Frelimo nas eleições de 9 de outubro, provocaram até agora três mortes, segundo confirmaram fontes da Voz da América, feridos não contabilizados, queima de autocarros e muitos confrontos entre manifestantes e as forças da ordem.
Nesta terça-feira, a capital acordou deserta, mas há relatos de muita tensão e o diretor do Hospital Central de Maputo disse à AFP que enfrenta “momentos difíceis”, pela falta de profissionais que não conseguem chegar ao estabelecimento devido ao bloqueio de estradas e medo dos protestos.
A cidade da Beira, na província de Sofala, no entanto, está em alvoroço, várias ruas continuam bloqueadas, estabelecimentos comerciais foram vandalizados e bens saqueados.
Pelo menos duas pessoas morreram e 25 foram baleadas, cinco das quais encontram-se em estado grave.
Em Nampula, a correspondente da Voz da América confirmou que repórteres da TV Sucesso foram agredidos por manifestantes, há tiroteios e muita vandalização por todo o lado.
Até ao momento, já foram vandalizadas três esquadras e também a casa do Arcebispo local foi alvo dos manifestantes, bem como o centro de saúde que funciona ao lado.
A circulação é praticamente inexistenta na cidade.
Hospital sem profisionais e apenas circulam carros fenerários e ambulâncias
Na capital do país, o diretor do Hospital Central de Maputo disse à AFP que o estabelecimento "está a funcionar em condições críticas, mais de 200 funcionários não conseguiram chegar ao local”.
Mouzinho Saide acrescentou que o hospital recebeu cerca de 90 feridos, incluindo 40 por armas de fogo e quatro por facas.
Apesar de alguma acalmia, as estradas principais e secundárias que dão acesso a Maputo e à vizinha Matola continuam bloqueadas por barricadas feitas de troncos e blocos de pedra,
O transporte público está paralisado e apenas circulam veículos funerários e ambulâncias.
"Dias piores"
Ontem, depois de muita espera e expectativa, o Conselho Constitucional confirmou a vitória do candidato da Frelimo, partido no poder, nas eleições presidenciais de 9 de outubro, com 65,17 por cento, contra 70,67 por cento atribuídos pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).
Ao ler o acórdão 24 do órgão, a juíza-presidente do CC confirmou também a vitória da Frelimo nas legislativas, nas Assembleias Municipais e para governadores nas 10 províncias.
“O Conselho Constitucional formou a sua firme convicção de que as irregularidades verificadas no decurso do processo eleitoral não influenciaram substancialmente os resultados das eleições gerais, presidenciais e legislativas, e das assembleias provinciais realizadas em todo o território nacional e na diáspora”, afirmou a presidente do órgão, Lúcia Ribeiro.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Podemos e que lidera as manifestações a partir de parte incerta, obteve, segundo o CC, 24,19 por cento, contra 20,32 por cento atribuídos pela CNE, mais quatro por cento.
Numa primeira reação, Mondlane disse que o CC está a “legalizar a fraude, legalizando a humilhação do seu próprio povo” e alertou o povo a "preparar-se porque “dias difíceis” virão.
"Ou a gente organiza o nosso país agora ou então nada feito”, concluiu.
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