Depois de quatro dias de euforia em Chicago, a Convenção Nacional Democrata terminou com a aceitação oficial de Kamala Harris como candidata presidencial às eleições de novembro deste ano.
Harris, que é atual vice-presidente dos Estados Unidos, viu o seu destino tomar outro rumo quando, em Julho, o Presidente Joe Biden anunciou que não iria concorrer a um segundo mandato, algo que o eleitorado americano aprovou massivamente, de acordo com uma sondagem da CNN na altura.
A vice-presidente Kamala Harris disse aos eleitores que têm a hipótese de traçar um “novo caminho a seguir” como americanos, em novembro deste ano.
“Não sou estranha a jornadas improváveis”, começou Kamala Harris por dizer, antes de contar a história da sua família, destacando como a sua mãe foi uma inspiração para a pessoa que ela é hoje, perante uma audiência de tal modo enérgica que tornou as primeiras palavras da candidata inaudíveis.
Ao subir ao palco, viu um mar de delegadas e apoiantes democratas vestindo branco – a cor do sufrágio feminino – o movimento que culminou com as mulheres americanas a garantirem o direito de voto em 1920.
Um ambiente festivo encheu o United Center durante toda a noite, com lotação esgotada.
Harris fez um apelo direto aos republicanos anti-Trump para que deixassem de lado os rótulos partidários e a apoiassem em vez de Trump, que negou a sua derrota para Biden nas eleições de 2020, que inspirou a insurreição do Capitólio a 6 de janeiro de 2021.
“Sei que há pessoas de várias opiniões políticas a assistir esta noite e quero que saibam que prometo ser um presidente para todos os americanos”, disse Harris. “Prometo ser uma Presidente para todos os americanos, para defender os princípios constitucionais sagrados da América, os princípios fundamentais, desde o Estado de direito e eleições justas até à transferência pacífica do poder.”
No seu argumento contra o seu opositor político, Donald Trump, Harris disse que “com esta eleição, a nossa nação tem uma oportunidade preciosa de ultrapassar a amargura, o cinismo e as batalhas divisivas do passado”, continuou Kamala Harris, dizendo também que esta eleição é das mais importantes da história do país.
O tema polarizador chamado imigração
A segurança na fronteira sul com o México e a forte afluência de migrantes indocumentados nos Estados Unidos tem sido tema de bandeira das campanhas, especialmente do lado republicano, com o ex-presidente Donald Trump a ter prometido na sua campanha em 2016 construir um muro e durante o seu mandato ter iniciado a construção do mesmo.
Na noite de quinta-feira em Chicago, Harris tocou "na ferida" dizendo que "nós podemos reformar o nosso sistema de imigração falido" e defendendo que é possível criar um caminho para a cidadania americana e reforçar a segurança na fronteira ao mesmo tempo.
6 de Janeiro
"Imaginem Donald Trump sem controlo?", apelou a vice-presidente e
descrevendo a sua carreira como Procuradora, Procuradora-geral do estado, senadora e agora vice-presidente, Harris disse: “Em toda a minha carreira só tive um cliente: o povo”. O único cliente que [ele, Trump] já teve: ele próprio.”
Ao referir-se a Donald Trump, ela mencionou várias vezes a “sua intenção explícita” de libertar aqueles que agrediram polícias no Capitólio, prender oponentes políticos e usar o exército contra cidadãos americanos. “Considere o que ele pretende fazer se lhe dermos poder novamente”, acrescentou.
"Confiámos nas mulheres"
No seu discurso, Harris abordou também aquela que se tornou a questão política central da sua vice-presidência e agora da sua campanha: o risco para os direitos reprodutivos.
“Esta noite, na América, muitas mulheres não são capazes de tomar estas decisões”, disse.
“E sejamos claros sobre como chegámos aqui: Donald Trump escolheu a dedo membros do Supremo Tribunal dos Estados Unidos para retirar os direitos reprodutivos.” E acrescentou: “É preciso perguntar porque é que exatamente não confiam nas mulheres? Bem, nós confiamos nas mulheres.
Gaza e Israel
Um dos momentos de grande ovação foi quando Kamala Harris proferiu as seguintes declarações:
"Deixem-me ser clara: defenderei sempre o direito de Israel se defender e assegurarei sempre que Israel tem a capacidade de se defender, porque o povo de Israel nunca mais deverá enfrentar o horror que uma organização terrorista chamada Hamas causou no dia 7 de Outubro.
Ao mesmo tempo, o que aconteceu em Gaza nos últimos 10 meses é devastador. Tantas vidas inocentes perdidas. Pessoas desesperadas e famintas a fugir em busca de segurança vezes sem conta. A escala do sofrimento é de partir o coração. O Presidente Biden e eu estamos a trabalhar para acabar com esta guerra, de modo a que Israel esteja seguro, os reféns sejam libertados, o sofrimento em Gaza acabe e o povo palestiniano possa realizar o seu direito à dignidade, segurança, liberdade e autodeterminação." Celebridades como Spike Lee e Octavia Spencer, presentes no evento, levantaram-se nesse momento para aplaudir as palavras de Harris. Especulou-se que Beyoncé iria atuar na convenção, mas a estrela de "Run the World (Girls)" não compareceu.
Promessas de braço forte
Antes de se despedir de uma audiência visivelmente eufórica, Kamala Harris mencionou ainda que "como Presidente, manter-me-ei forte ao lado da Ucrânia e dos nossos aliados da NATO" e que "nunca irei hesitar a fazer o que for necessário para defender as nossas forças e os nossos interesses contra o Irão e terroristas apoiados pelo Irão, não me vou aproximar a tiranos e ditadores como Kim Jong Un, que apoiam Trump, porque eles sabem que ele é fácil de manipular com bajulação e favores".
O discurso de Harris em Chicago encerra um turbilhão de oito semanas na política norte-americana e manifesta a surpreendente inversão da sorte democrata, a apenas 75 dias do dia das eleições. Os líderes do partido que desesperaram publicamente com a candidatura do Presidente Joe Biden após o seu debate desastroso contra Trump, exultaram tanto com a natureza histórica da candidatura de Harris como com as suas esperanças para Novembro deste ano.
Senhora das leis, Kamala Harris foi Procuradora-geral do Estado da Califórnia, de onde é natural, durante seis anos. Filha de pai jamaicano e mãe indiana, formou-se na Universidade de Howard, é casada, e é a terceira democrata negra a concorrer à Presidência dos Estados Unidos. Ela é a primeira mulher negra e a primeira pessoa de ascendência sul-asiática a aceitar a nomeação democrata.
Harris escolheu como seu companheiro de corrida, o governador progressista, Tim Walz.
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