Académicos angolanos defendem a definição de uma melhor estratégia de protecção e gestão do património histórico nacional.
Os museus, de forma particular, merecem um tratamento especial e tal valorização, segundo académicos, está prevista na Constituição da República que consagra o acesso à cultura.
O Governo angolano tem como obrigação criar instrumentos-reitores para definir as grandes linhas da política pública do sector da cultura para materializar o que a Carta Magna prevê no seu artigo 87º no que respeita à conservação e protecção do património e do acervo histórico e artístico-cultural.
“Sem uma união entre o povo angolano não se pode pensar num país próspero e desenvolvido. A cultura deve jogar este papel de unir o povo e a sociedade angolana para que esta seja de facto coesa e deve trabalhar em prol do desenvolvimento do país”, diz Ziva Domingos, doutor em Antropologia e ex-director nacional dos museus.
A política pública do sector, a gestão e a conservação do património cultural devem merecer um tratamento especial para que os bens culturais sejam transmitidos de geração em geração.
Aquele académico aponta outros instrumentos sobre os quais o Executivo se pode apoiar para alcançar este desiderato entre os quais a Lei do Património Cultural de 2005 “que faz abordagens amplas relativas as questões de salvaguarda, valorização e protecção do património cultural angolano”.
O Plano de Desenvolvimento Nacional 2018-2022 é outro instrumento que se deve considerar para materialização das políticas culturais uma vez que faz menção sobre o como a cultura devia ser gerida a nível do país, destacando como prioridade a valorização e a dinamização do património cultural nacional com forte aposta na recuperação e melhoria da rede museológica, da rede de bibliotecas, dos arquivos, na preservação e manutenção das colecções.
Filipe Vidal, antropólogo e pesquisador cultural, fazendo um enquadramento histórico da institucionalização dos museus em África, destaca o papel destes lugares de conservação da cultura no plano económico e da geoestratégia política.
“Antes de sabermos o que fazem as colecções, precisamos saber o que é a arte africana e porquê surgem estas colecções, qual é o papel destas colecções?”, questiona aquele pesquisador para quem “no espaço geopolítico, estratégico e económico o museu é um local de legitimação que representa o poder conquistado, daí a necessidade da sua conservação e valorização dos objectos nele guardados.
Vidal chama atenção para a necessidade de valorização das obras de arte nacionais, de modo que através destes objectos se possa conhecer a história do povo sem deturpação, e entende, por outro lado, que se deve analisar profundamente a questão, na medida em que certas culturas impingidas aos africanos estão a descaracterizar e a desvalorização os objectos culturais nacionais fazendo crer que se trata de “objectos usados para fins sobrenaturais” ou seja feitiço.
A implementação de serviços complementares no espaço que alberga os museus pode ser uma maneira alternativa de garantia da auto-sustentabilidade, dizem os entrevistados da VOA em mais uma edição da Janela de Angola.
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