Analistas angolanos continuam divididos quanto ao significado das acções do Governo contra a família de José Eduardo dos Santos que culminaram, no final do ano, com o congelamento do património e contas de empresária Isabel dos Santos e do seu marido no país.
Com o "exílio" de José Eduardo dos Santos, a expulsão do Parlamento de “Tchizé” dos Santos, a prisão e julgamento de José Filomeno dos Santos e, agora, o congelamento dos bens de Isabel dos Santos, muitos observadores vêem estas acções como parte do combate à corrupção, mas outros falam num ataque premeditado à família Dos Santos e ao seu poder.
Há quem, no entanto, vê nas acções apenas uma tentativa de limpar a imagem do partido no poder, o MPLA, para garantir a sua sobrevivência.
O jurista Pedro Kaparacata entende que não há qualquer perseguição de João Lourenço à família Dos Santos.
“Isto visa um só objectivo: consolidar e manter o partido governante no poder", disse, descrevendo as acusações entre os dois lados como “uma troca de palavras carnavalescas”.
O sociólogo João Sassando é de opinião que as acções contra a família do antigo Presidente são parte de “uma estratégia montada” que se destina “mais a lavar a imagem da organização para se manter no poder”.
O cientista político Agostinho Sikatu tem outra leitura e aponta para uma luta “entre duas alas” do MPLA.
“O grupo de José Eduardo dos Santos ainda mantém o poder na banca, nas empresas estratégicas”, o que, na opinião de Sikatu, perturba o novo poder.
Por isso, defende que as duas alas devem “criar uma comissão interna de reconciliação”.
Para Sikatu, actualmente, toda a luta contra a corrupção “está a incidir directamente a família de José Eduardo dos Santos e os que estiveram ligados ao antigo Presidente".
Refira-se que não houve ainda qualquer pronunciamento nem do Presidente da República nem do MPLA às acusações de perseguição política de Isabel dos Santos, ante o arresto dos seus bens e contas.