O número de raparigas que consome drogas pesadas nas escolas da província moçambicana de Manica cresceu de forma assustadora nos últimos meses e muitas chegam a frequentar as aulas sob efeito das drogas, ameaçando o processo de ensino.
O alerta é da activista social Júlia Carlos para quem este “novo surto” foi detectado e confirmado há poucos meses, inicialmente em duas escolas da cidade de Chimoio, mas o fenómeno tende a se alastrar, sobretudo, nas escolas das zonas periurbanas da capital provincial.
“Neste momento estamos atrás de um novo surto, antes não tínhamos isso, as raparigas já estão a se drogar nas escolas”, afirma à VOA Júlia Carlos, acrescentando que os primeiros casos foram reportados nas escolas Eduardo Mondlane e 7 de Abril.
As raparigas “aparecem nas escolas em estado de embriaguez e algumas consomem essas drogas, como cannabis sativa, lamina, e outros comprimidos que tomam, e vão a escola sob efeitos dessas drogas”, referiu a também oficial sénior para prevenção de HIV e Violência Baseada no Género na Associação Nacional de Desenvolvimento Autossustentado (ANDA-Manica).
Um total de 16 raparigas que consomem drogas foram identificadas na escola 7 de Abril, e um trabalho multiforme que envolve as autoridades locais, Polícia e o Gabinete de Combate a Drogas está em curso para identificar o número de raparigas consumidoras de outras escolas.
“Duas das raparigas já pediram para serem reabilitadas”, precisa Júlia Carlos, realçando que está a ser envolvida na solução do problema a direção das escolas e os familiares das alunas.
Consequências nefastas
Em declarações à VOA, o analista moçambicano Samuel Simango diz que o fenómeno das drogas é preocupante, na medida em que “cria distúrbios sociais relevantes”, sobretudo quando afeta esta comunidade escolar: as raparigas.
“Moçambique como país deixou de ser um corredor de drogas, e passou a ser também um país de consumo, e estamos perante um problema sério", vinca Samuel Simango, para quem este fenómeno deve ter atenção urgente das autoridades governamentais.
A população de Manica, prossegue Samuel Simango, aproveita o potencial agrícola da província para produzir a cannabis, que geralmente é comercializada com pequenas redes, com acesso às escolas, e que aliciam as raparigas estudantes, a consumir e até a comercializar, supostamente para ganhar dinheiro.
Ele adverte que a continuar a propagar o fenómeno, o país ficará mais debilitado ainda, na medida em que se vai perder o capital humano.
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