Um novo fenómeno atormenta Pemba, capital de Cabo Delgado. Há cada vez mais crianças dadas como desaparecidas. Na sequência, os pais receiam mandar os filhos à escola ou deixá-los brincar livremente na rua.
No primeiro semestre do ano, sem confirmação oficial, pelo menos, 18 crianças desapareceram do seio familiar. E apenas em Julho foram notificados quatro casos, que a Polícia diz que está a investigar.
A situação eleva a pressão social na cidade, que acolhe centenas de familias deslocadas de ataques terroristas, nos distritos mais a norte da província de Cabo Delgado.
Estou toda abalada, triste, diferente daquilo que eu sou, sem rumo, não dá nem para comer e beber água, estou na escuridão. Eu já não me reconheço e não sei o que estou a fazer, está tudo difícil,Anita Trindade, mãe de criança desaparecida
O sociólogo Adelino Selemane diz que o desaparecimento de crianças em Pemba causa intranquilidade social.
“Com este cenário a população tem receio em deixar as suas crianças irem ou estarem numa creche e também de brincar com seus amigos", diz Selemane.
Ele diz que os pais vivem angustiados, “uma vez que não sabem se a sua criança foi acolhida por pessoa de boa fé, se foi sequestrada ou está perdida”.
Vasco Buanausse, cujo filho desapareceu, conseguiu um valor para recompensar quem ajudasse a localizar, mas passam três semanas e não tem nenhuma pista.
Pais angustiados
“A nossa vida mudou, porque o Júnior (filho) é um grande companheiro nosso e da família, então praticamente nenhum de nós tem vontade de trabalhar, estamos aqui estagnados, não temos sono, não há descanso”, diz Buanausse.
“Estou toda abalada, triste, diferente daquilo que eu sou, sem rumo, não dá nem para comer e beber água, estou na escuridão. Eu já não me reconheço e não sei o que estou a fazer, está tudo difícil,” conta Anita Trindade, mãe de outra criança desaparecida há sensivelmente duas semanas
Trindade, que contactou todas as entidades que lidam com casos do género, diz que não vai desistir. "Eu tenho fé em Deus, que talvez o meu filho ainda existe vivo e um dia espero abraçar".
O porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Cabo Delgado, Aniceto Magome, falando à VOA, negou tratar-se de casos de rapto, e que diligências estão em curso.
“Em coordenação com o SERNIC (polícia de investigação) estamos a trabalhar”, diz Magome, que anuncia a detenção de três indivíduos, o que pode ajudar a esclarecer o desaparecimento de crianças “o mais rápido possível”.
Ele diz que as as autoridades estão preocupadas, “porque não temos situações anteriores que indicassem situações de rapto e o sequestro de menores a nível da nossa cidade”.
E o ativista social Castro Tafula alerta que “há muita necessidade de ficarmos atentos no sentido de colmatar este mal ainda logo no princípio.”
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