Um ano após o Governo moçambicano ter criado a Agência de Desenvolvimento Integrado do Norte (ADIN), com o propósito de combater as assimetrias regionais, facto apontado como uma das causas da insurgência em Cabo Delgado, especialistas dizem que só acções concretas e com impacto social e económico poderão dissipar o cepticismo existente em relação à instituição, fortemente criticada pela sociedade civil moçambicana por inactividade.
A ADIN foi criada para de reduzir as graves assimetrias regionais através da promoção do desenvolvimento das províncias de Niassa, Cabo Delgado e Nampula.
Dados de 2015 mostram, por exemplo, que as três províncias são aquelas que apresentam índices mais elevados de pobreza, sendo Niassa com 67 por cento, Nampula com 65 por cento e Cabo Delgado com 53 por cento, comparativamente à média nacional de 43 por cento.
"A ADIN podia ser um projecto de desenvolvimento mais sustentado, mas não é isso que está a acontecer, não há nada de concreto no terreno", lamenta o pesquisador do Observatório do Meio Rural, João Feijó.
O agricultor Saimone Faztudo afirma que "durante o acto de lançamento da ADIN, há mais de um ano, foi dito que o objectivo era estimular o desenvolvimento da zona norte do país, de uma forma integrada, aproveitando as potencialidades e recursos naturais existentes nesta região, mas na prática não é isso que está a acontecer".
Por seu turno, António Salvador, comerciante, diz que não se percebe que durante quase um ano a ADIN não tenha feito praticamente nada, realçando que "até parece que algumas pessoas estão satisfeitas com o fraco desenvolvimento da região norte".
Falso arranque
Para o jornalista Fernando Lima, o problema é que a ADIN teve um falso arranque, daí o cepticismo existente relativamente a esta agência.
Ele sublinha ser necessário ver o desempenho da ADIN com muita cautela "porque pode ser uma daquelas agências sem fundos, em que o dinheiro pode ser gasto para outros objectivos que não aqueles que estão nos termos de referência".
A ADIN conta com uma subvenção do Banco Mundial (BM) no valor de 100 milhões de dólares para a concretização de um plano de desenvolvimento estratégico da zona norte, uma das menos desenvolvidas de Moçambique.
Por seu lado, o jornalista Tomás Vieira Mário acredita que, bem implementada, é uma estratégia para reduzir as assimetrias regionais, que no caso de Cabo Delgado, são vistas como sendo alguns dos factores que alimentam o conflito actual.
A subvenção do BM enquadra-se num projecto assente num modelo de assistência social produtiva e espera-se que permita a criação de 32 mil oportunidades de emprego agrícola e igual quantidade de serviços sociais simplificados.
Para o investigador e professor universitário Calton Cadeado, tem que haver uma forte inclinação destes projectos à promoção de empregos sobretudo para jovens.