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Morre Sam Nujoma, primeiro Presidente da Namíbia, aos 95 anos


ARQUIVO - Sam Nujoma, presidente do partido Swapo.
ARQUIVO - Sam Nujoma, presidente do partido Swapo.

“Um povo unido, que se esforça por alcançar um bem comum a todos os membros da sociedade, sairá sempre vitorioso”, dizia Nujoma.

O primeiro Presidente da Namíbia Sam Nujoma, faleceu neste domingo, 9, aos 95 anos, informou a Presidência do país.

“Os alicerces da República da Namíbia foram abalados. O nosso venerável líder, o Dr. Nujoma, não só abriu o caminho para a liberdade como também nos inspirou a levantarmo-nos e a tornarmo-nos senhores desta vasta terra dos nossos antepassados”, escreveu a Presidência no X.

A nota acrescenta que Nujoma foi hospitalizado para tratamento médico nas últimas três semanas, mas, “infelizmente, desta vez, o filho mais valente da nossa terra não conseguiu recuperar da sua doença”.

A Independência

Ativista e líder da luta pela Independência do país, Sam Nujoma tornou-se no primeiro Presidente democraticamente eleito da Namíbia após a independência da África do Sul.

Ele ascendeu à chefia do país s 21 de março de 1990 e foi formalmente reconhecido como "Pai Fundador da Nação Namibiana" através de uma lei do Parlamento em 2005.

A aclamação foi contrabalançada pelas críticas nacionais e internacionais sobre a sua intolerância à cobertura independente dos meios de comunicação social, as suas críticas contra a homossexualidade e sobre a alteração constitucional de 1998 que lhe permitiu concorrer a um terceiro mandato.

Pragmatismo

Antigo guerrilheiro, ele foi um aliado de longa data do Presidente do Zimbabwe, Robert Mugabe, e apoiou as confiscações de terras dos agricultores brancos por parte dele, embora na Namíbia tenha optado pela política de "comprador voluntário, vendedor voluntário".

Nujoma cumpriu os seus três mandatos como Presidente, de 1990 a 2005, e procurou projetar-se como um líder unificador, colmatando divisões políticas.

Num país marcado pelo legado do apartheid e do domínio colonial alemão, o partido SWAPO, por ele criado e liderado, aplicou um programa de reconciliação nacional sob o lema "Uma Namíbia, Uma Nação".

Nos seus discursos, Nujoma fez questão de repetir a frase: “Um povo unido, que se esforça por alcançar um bem comum a todos os membros da sociedade, sairá sempre vitorioso”.

As suas realizações incluíram o estabelecimento de instituições democráticas e a priorização da reconciliação, disse Ndumba Kamwanyah, professor da Universidade da Namíbia e analista político.

Mas as suas tendências autocráticas, patentes no tratamento dado aos meios de comunicação social e na repressão brutal da rebelião de Caprivi em 1999, lançam uma sombra sobre o seu legado, acrescentou Kamwanyah.

“Embora a presidência de Nujoma tenha sido fundamental no estabelecimento da independência e governação da Namíbia, não foi isenta de falhas”, conclui Kamwanyah.

A trajetória

Nascido em 1929, ainda adolescente cuidou do rebanho da sua família e frequentou uma escola missionária finlandesa, antes de se mudar para a cidade costeira de Walvis Bay e depois para a capital Windhoek, onde trabalhou para a South African Railways, de acordo com uma biografia publicada no site da fundação de caridade de Nujoma.

Ele deixou o seu trabalho nos caminhos-de-ferro para concentrar as suas energias na derrubada do sistema do apartheid.

No final da década de 1950, tornou-se líder da Organização Popular de Owambo, precursora do movimento de libertação SWAPO, organizando a resistência à deslocalização forçada de pessoas negras em Windhoek, que culminou com a morte de 12 pessoas desarmadas pela polícia e o ferimento de dezenas de outras.

Nujoma foi acusado de organizar a resistência e preso, em 1960, mas foi para o exílio.

Campanha pela Independencia

Viajou por toda a África antes de chegar aos Estados Unidos, onde fez uma petição às Nações Unidas pela independência da Namíbia.

Depois, como líder da SWAPO à revelia, Nujoma criou o seu braço armado e em 1966 lançou uma guerra de guerrilha contra o governo da África do Su..

Durante mais de uma década de guerra e muita pressão internacional liderada por Nujoma, uma resolução do Conselho de Segurança da ONU em 1978 propôs um cessar-fogo e eleições, o que só viria a acontecer no final de 1989, com as primeiras eleições.

A SWAPO obteve a maioria nestas eleições e Sam Nujoma assumiu a Presidência em março do ano seguinte.

Com a sua barba branca, imagem de marca, foi o último de uma geração de líderes africanos que tiraram os seus países do domínio colonial ou da minoria branca, como Nelson Mandela, da África do Sul, Robert Mugabe, do Zimbabwe, Kenneth Kaunda,da Zâmbia e Samora Machel, de Moçambique.

Muitos namibianos atribuíram à liderança de Nujoma o processo de cura e reconciliação nacional após as profundas divisões causadas pela guerra da independência e pelas políticas da África do Sul de dividir o país em governos regionais de base étnica, com educação e cuidados de saúde separados para cada raça.

Até os seus adversários políticos elogiaram Nujoma – que foi considerado marxista e acusado de reprimir implacavelmente a dissidência durante o exílio – por estabelecer uma Constituição democrática e por envolver empresários e políticos brancos no governo após a independência

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