Empresários do ramo da moda, estilistas e modelos que ganham a vida por meio deste sector, lamentam que a actividade ainda não seja vista como um recurso importante para diversificação das receitas do Estado.
Alguns falam em exclusão por parte do ministério da Cultura.
Rui Lopes é estilista e embaixador da Cultura Africana na cidade de Zipakira, na Colômbia. O artista, que foi um dos convidados especiais do lançamento do “África Fashion Week Colombia”, diz que apesar das dificuldades da indústria têxtil, registam-se passos firmes e sólidos na moda em Angola.
Lopes lamenta que grande parte dos eventos culturais no país seja realizada apenas com apoios político-partidários.
“Nós vimos que muitos eventos em Angola eram simplesmente sustentados pelo partido (MPLA) e muitos não eram realizados, porque não tinham cunho partidário (…) há muitas pessoas com boas ideias sem filiação partidária.
Lopes, que diz que “muitos estilistas nacionais estão a viajar para grandes eventos de moda a nível internacional”, defende que “a moda devia merecer uma categoria nos prémios nacionais de Cultura e Artes”.
A jovem modelo Angelina Samuel diz também que em Angola “ainda não é possível viver desta actividade por falta de valorização de quem faz desta actividade um ganha-pão”.
É preciso definir a moda angolana
O mercado angolano da moda ainda é dominado pela roupa e estilos provenientes ocidentais.
Nos grandes centros comerciais não há muita disponibilidade de marcas e modelos de roupa, calçado e outros utensílios que sejam tradicionalmente nacionais.
A profissional Jamila Franco diz que isso é “uma falha que precisa de ser corrigida” e deve haver mais divulgação para que se perceba que a moda angolana não pode ser o estilo europeu no tecido angolano".
A estilista Elizabeth Ferreira conta que para sobreviver vê-se forçada a vender os seus produtos na Europa.
“Achei melhor vender na Suíça, pois é ai que eu consigo algumas divisas e adquiro produtos para fazer as peças”, afirma a artista, que acredita que teria mais rendimento se os produtos fossem vendidos localmente.
Outra complicação é a falta de divisas, tal como afirma Lourenço Tomás, designer. “O nosso material é todo importado, e se não tivermos divisas não conseguimos adquirir. Temos que comprar as moedas estrangeiras no mercado informal…”
ModAngola 2017
Mesmo no meio de dificuldades, na próxima sexta-feira, 8 de Dezembro, acontece a V edição do ModAngola, evento que pretende valorizar a produção nacional e lançar novos talentos.
Mais de 50 modelos das províncias de Luanda, Cuanza Sul, Bengo, Huila, Benguela, Lunda Sul, Uíge e Zaire participam no Moda Angola/2017, com apresentações de tendências e estilos para ocasiões formais e informais.
Daniel Pires, líder da Agência Angolana de Moda, a organizadora do vento, defende a aposta do Executivo na industrial têxtil para alavancar a economia.
Para o artista, “é preciso acreditar na moda como um sector fundamental da diversificação da economia angolana”.
“Os ministérios da Cultura e Indústria devem dar a volta à situação, porque eles têm a faca e o queijo na mão. O Executivo precisa ver o problema do ressurgimento da indústria têxtil para que possamos continuar a trabalhar”, alerta o estilista Rui Lopes.
Relançamento da indústria
O governo de Angola quer relançar não só a cultura do algodão, mas também a indústria têxtil.
Em 2011, ficou concluído o Programa Nacional para o Relançamento da Produção do Algodão..
Depois de 18 anos de paralisação, a África Têxtil, na província de Benguela, voltou este ano a produzir lençóis, toalhas e cobertores, em fase experimental.
No que diz respeito ao relançamento do cultivo do algodão, o projecto prevê o envolvimento de cerca de 120 mil camponeses para a cobertura de 120 mil hectares.
A produção deve começar nas províncias de Malanje e Cuanza Sul, que têm grande tradição na cultura do algodão. Na fase seguinte serão abrangidas Benguela, Bengo e Cuanza Norte.
O programa prevê a instalação de 11 fábricas de descaroçamento de algodão, nas províncias de Malanje, Cuanza Norte, Cuanza Sul, Benguela e Bengo.
Angola teve em 1973 cerca de 86 mil toneladas de algodão-caroço, e foi considerado um dos maiores produtores mundiais.