Baixo nível de escolaridade, crenças e funcionamento deficitário das instituições sociais estão na origem do tráfico de pessoas com calvície em Moçambique, defende o pesquisador e docente da Universidade Eduardo Mondlane, Book Sambo.
No momento em que uma onda de assassinados de homens calvos assalta o país, a Associação Moçambicana de Médicos Tradicionais (AMETRAMO), distancia-se dessa realidade.
O presidente desta associação Fernando Mate considera que a falta de legislação sobre este tipo de crime propicia o ocorrência destes casos no país.
A polícia diz que está a adoptar medidas com vista a combater este fenómeno, que está a preocupar a sociedade moçambicana.
Para o sociólogo, pesquisador e docente na Universidade Eduardo Mondlane, Book Sambo, o crescente número deste casos está relacionado com o baixo nível escolar, desemprego e crenças religiosas.
"Isto não deve ser visto como uma prática cá isolada daquilo que são os nossos problemas sociais, o nível de instrução baixo, pessoas com dificuldades socioeconómicas de integração social, desde a dificuldade de ter um emprego, com relação a inserção social, factores esses associados a crenças mágico-religiosas de certa forma ajudam com que esse tipo de práticas se reproduzam socialmente", considerou Book Sambo.
As pessoas com calvície hereditária, tal como as albinas, são tradicionalmente tidas como sinónimo de riqueza e os seus órgãos procurados para praticar rituais.
Fernando Mathe, presidente da AMETRANO, nega o envolvimento de curandeiros nestes crimes, apesar de reconhecer a existência de burlões que aproveitam-se do desconhecimento das pessoas.
"Não confirmo que existam médicos tradicionais que possam estar envolvidos nesses casos,~ porque ninguém até aqui foi preso, também não quero dizer se fazem ou não isso porque o que a acontece é que as pessoas como vivem das 'boladas' basta ouvirem um boato, todas correm nesse sentido e tentam aprender a ganhar dinheiro facilmente", defendeu Mate.
Por seu lado, Inácio Dina, do Comando Geral da Polícia, diz que a corporação está a adoptar medidas com vista a combater este fenómeno.
"São cenários que acabam por ser impensáveis de que alguém podia ser perseguido por ter uma característica tão comum, biológica e cientificamente explicável", disse Dina.
Os ataques a pessoas calvas surgem alguns meses após abrandar os raptos e assassinato de albinos em Moçambique para extração de órgãos.