Membros das forças armadas esforçam-se para impedir a fuga massiva de civis, em Mocímboa da Praia, na província moçambicana de Cabo Delgado, depois de insurgentes terem invadido aldeias vizinhas em novos ataques provocando pânico, disseram à VOA nesta quinta-feira, 11, moradores e autoridades.
Desde 5 de Janeiro, os ataques rebeldes atingiram um raio de quase cinco quilómetros de Mocímboa da Praia, e visaram uma ilha perto da cidade e as aldeias Ntotue e Chibanga, onde sete civis foram mortos, devolvendo um clima de terror e insegurança na vila que foi alvo do primeiro ataque dos insurgentes, em de Outubro de 2017.
“Uma e outra pessoa vai fugindo”, violando o bloqueio das forças de segurança do Ruanda, que tentam impedir a saída de veículos carregados de vários bens, que evidenciam uma transferência, como camas, colchões e eletrodomésticos, disse em declarações à VOA um morador local.
Para enfrentar a insurgência, Moçambique, além de seus militares e do Ruanda, conta com outros da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral.
Insegurança
As autoridades municipais em Mocímboa da Praia, confirmaram que centenas de pessoas, incluindo funcionários públicos, professores e enfermeiros, tentaram deixar a cidade a caminho de Mueda e Palma desde os ataques da semana passada.
“Tivemos três dias de terror. A tendência das pessoas é de sair, de facto, das aldeias vizinhas para vir acumular aqui no centro, outras mesmo com intenção de sair de Mocímboa para outros cantos”, disse Vicente Alfândega, porta-voz do Conselho Autárquico de Mocímboa da Praia, realçando que a situação desestabilizou a normalidade na vila.
Após o ataque à aldeia Ntotue, disse Alfândega, as autoridades evacuaram dezenas de crianças que participavam de um rito de iniciação para uma aldeia vizinha para garantir a sua segurança.
“Não é uma nova vaga de deslocados, mas as pessoas estão intranquilas e a conversa nos corredores é sobre essa situação de terroristas. Esse não é um bom ambiente”, disse.
As tropas moçambicanas e ruandesas, tinham se reunido com os representantes das autoridades no domingo, 7, e instruíram a população a não fugir, dando-lhes garantia de maior patrulha da área e que novos reforços chegavam de Nacala, na província vizinha de Nampula.
EI reivindica
Cabo Delgado assistiu uma escalada repentina de ataques insurgentes nos últimos dias, com o Estado Islâmico a reivindicar cinco incursões, desde o inicio do novo ano, incluindo o ataque que matou um promotor de saúde da organização humanitária Medico Sem Fronteiras, a 5 de Janeiro e outros quatro civis na aldeia Chibanga.
Estes ataques aconteceram após, a 3 de Janeiro, o Estado Islâmico ter anunciado uma ofensiva militar genérica, que designa de campanha “mate-os onde os encontrar”, obrigando todos os seus grupos afiliados a intensificar os ataques.
Na leitura do pesquisador moçambicano, João Feijó, este ano será consolidado o regresso da população às aldeias dos distritos a norte de Cabo Delgado, e os ataques rebeldes vão se concentrar a sul de Mocímboa da Praia e norte de Macomia, sem perturbar o projeto de gás, que dece ser retomado.
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