O ciclone Jude, que atingiu a província de Nampula, na segunda-feira, 10, provocou a morte de, pelo menos, nove pessoas e 20 feridos, além da destruição de casas, escolas, centros de saúde, estradas e pontes.
Na cidade de Nampula e distritos, o ambiente é de luto e desespero, havendo já preocupações em adotar, com seriedade, formas de construção resilientes.
É nessa direção que parece estar a família de Júlio Ramos, após ter sido colhida por um infortúnio na passagem do “Jude”. Perdeu a neta de cinco anos de idade quando desabou uma parede da sua casa de matope. Outra neta de nove anos contraiu ferimentos e está internada no Hospital Central de Nampula.
Ramos conta que a sua casa era de construção precária e “o nosso bairro, quando chega este tempo sempre a terra fica muito alagada (...) com este ciclone, até agora estão a cair casas”. O caminho, diz, passa por mudar o tipo de casa.
Fátima, que prefere omitir o apelido, também viu a sua casa cair pela segunda vez. “Caiu com a primeira chuva, construímos de novo uma casa básica e agora voltou a cair. Assim, não temos maneira,” conta.
Em toda a província, mais de 100 mil pessoas precisam de ajuda. Na capital, a cidade de Nampula, os que perderam as casas estão abrigados em escolas.
Casas resilientes
A magnitude da destruição de infraestruturas, sobretudo as habitacionais está associada aos modelos de construção, que não empregam técnicas resilientes aos fenómenos climáticos, que são cada vez mais frequentes no país, diz o urbanista Letício Azevedo.
Para ele, embora o Governo tenha programas e modelos de casas resilientes e de baixo custo, não há divulgação dos protótipos nas comunidades, e o controlo de assentamentos é deficiente.
“Nós temos que perceber que a maioria da população é pobre e não consegue erguer uma residência de material convencional; a maioria usa material precário e local”, diz Azevedo, que opina que o Governo deve “fortificar esta questão de habitação resiliente” para que ocorram mudanças.
De referir que as autoridades locais contam com um guião de construção de habitações resilientes e, em 2022, foi lançado, no Posto Administrativo de Matinane, no distrito de Mossuril, o modelo de casas resilientes a tempestades tropicais.
Reversão
A chefe do Instituto Nacional de Gestão de Riscos de Desastres Naturais (INGD), Luísa Meque, afirma que as questões culturais têm um peso sobre os modelos de habitação nas comunidades, e está em curso um trabalho para reverter a situação.
O trabalho, conta, é feito com o Ministério das Obras Públicas com a finalidade de ajudar as comunidades em “técnicas para sentirem que têm casas resistentes” e evitar “a mortalidade por desabastecimento.”
Por outro lado, o Governador da província, Eduardo Abdula, entende que a solução está no Centro Tecnológico - Laboratório de Engenharia de Moçambique, construído no Posto Administrativo de Namialo, mas inoperacional há 15 anos.
O Centro foi criado em 2009 para a certificação da produção de material de construção.
Abdula diz que o Governo pretende reabrir aquele centro para “ver se conseguimos trazer experiências, ensinar, transmitir conhecimentos no sentido de construírem casas resilientes e também de baixo custo”.
Recorde-se que que “Jude” é o terceiro ciclone que atinge o norte de Moçambique, em menos de seis meses, tendo destruído 52 mil casas, e provocado a morte de mais de 60 das 600 mil pessoas afetadas.
Fórum