Analistas políticos moçambicanos alertam que no fecho de um ciclo de governacão, o Estado pode estar a saque, com alguns altos funcionários públicos a inventarem concursos fictícios para se apoderarem de fundos do erário público.
Este comentários surgem a propósito de um rombo financeiro de cerca de 52 milhões de meticais que acaba de ser descoberto no Ministério da Defesa Nacional, o que, por outro lado, na opinião dos observadores mostra o quão vulnerável é o setor securitário nacional.
O Gabinete Central de Combate à Corrupção (GCCC), tutelado pela Procuradoria-Geral da República, instaurou três processos envolvendo cinco altos funcionários do Ministério da Defesa Nacional, indiciados no desvio de mais de 52 milhões de meticais, de acordo com o porta-voz daquele gabinete, Romualdo Johnam.
Para o analista político Tomás Vieira Mário, "isto corresponde a uma espécie de take away às instituições no final de um ciclo governativo de 10 anos do Presidente Filipe Nyusi", e avança que no Ministério da Defesa Nacional, "isso foi encoberto nos termos de que estamos em conflito contra o terrorismo em Cabo Delgado, e portanto há sempre urgência para fazer compras que não podem esperar".
Mais casos
Vieira Mário refere que na quarta-feira, 8, foi divulgada uma informação de que houve um rombo financeiro de muitos milhões de meticais na Segurança Social, ‘"o que mostra que estamos numa época muito perigosa de fecho de um ciclo de governacão em que oficiais do Estado de alto nível inventam concursos públicos fictícios para saquear o Estado".
Este facto foi realçado também por José Manteigas, porta-voz da Renamo, para quem "fala-se de boca cheia que a guerra em Cabo Delgado conseguiu ter tentáculos grandes porque é também um ambiente em que altas patentes das Forças de Defesa e Segurança estão a enriquecer".
O analista político Fernando Mbanze diz que isto acontece porque o Ministério da Defesa Nacional pode não estar a aprimorar a sua estratégia de controlo, monitoria e fiscalização, sublinhando que esta falha até pode ser deliberada, "para dar espaço a que atos de corrupção possam acontecer porque os setores de defesa e segurança, numa situação de guerra como a de Cabo Delgado, são instituições que devem ser altamente controladas e com critérios de transparência bastante altos".
Por seu turno, o jornalista Luis Nhachote diz ser surpreendente que um dos maiores escândalos de corrupção deste ano tenha sido orquestrado no Ministério da Defesa Nacional e sublinha que isso mostra o quão grave o país está em termos de segurança.
Para aquele analista político, era suposto que as instituições de defesa e segurança não fossem propensas à corrupção.
Entretanto, o Ministério da Defesa Nacional respondendo dizendo que o facto de os indivíduos indiciados neste crime terem sido descobertos mostra que a instituição não tolera crimes de corrupção, realçando que o grupo demonstrava sinais exteriores de riqueza que não se coaduna com os seus rendimentos lícitos.
O grupo responde pelos crimes de peculato, fraude fiscal, enriquecimento ilícito e lavagem de dinheiro.
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