Especialistas defendem que Moçambique deve repensar o modelo de desenvolvimento consensual de longo prazo, que possa ajudar a mitigar os conflitos que o país tem vindo a registar.
Vários têm sido os factores apontados como estando na origem dos conflitos violentos em Moçambique, entre os quais a actuação do Governo relativamente a questões que possam contribuir para um desenvolvimento harmonioso do país.
O académico Fernando Cardoso considera haver aspectos que aumentam conflitos em Moçambique, embora, eventualmente, nada tenham a ver com a guerra em Cabo Delgado.
Ele referiu que esses aspectos têm a ver com "a actuação do Governo relativamente à resolução dos problemas dos camponeses em diversas zonas de Moçambique, à distribuição da terra e à maneira como os recursos minerais estão a ser utilizados por comerciantes locais e elites ligadas ao poder".
"Isso é que tem, de alguma maneira, feito aumentar o ressentimento popular contra a Frelimo (partido no poder), mas isto não é a guerra em Cabo Delgado - estes são elementos que explicam que não haja maior apoio popular à actuação do Governo central", realçou aquele académico.
Falta de oportunidades
Em alguns círculos de opinião, afirma-se haver a sensação de que há moçambicanos que têm acesso a oportunidades e outros que não as têm, sendo por isso que se fala, à boca cheia, no centro, no sul e no norte, porque falta um pensamento sobre como é que os moçambicanos podem ter as mesmas oportunidades, sustentando-se que isso é motivo de conflitos.
O docente universitário Paulo Uache, diz que Moçambique precisa de desenhar uma estratégia de desenvolvimento, "onde nós dizemos daqui a 10 ou 30 anos quais são as nossas áreas prioritárias e qual é o orçamento que vamos alocar".
"Não estou a falar do plano quinquenal (do Governo), mas de um elemento congregador e não filosófico como foi, na minha opinião, o Plano 20-25, mas um plano de desenvolvimento virado para os sectores primordiais e com indicadores económicos tangíveis, para que possamos saber de onde virão os recursos e em que áreas devemos investir em primeiro lugar," enfatizou Uache.
O sociólogo João Feijó defende também ser necessário mudar todo o modelo de desenvolvimento do país, "porque não podemos estar só a pensar na indústria extractive (…)tem que haver um plano concreto coerente, consensual de longo prazo, que não existe em Moçambique".
Entretanto, Salvador Forquilha, do Instituto de Estudos Sociais e Económicos, falando num seminário da instituição, defendeu que é preciso reinventar o sistema político, porque a pobreza, a instabilidade e a guerra não são e nem podem ser vistas como uma fatalidade do destino.
"Elas são, em grande parte, produto de opções e políticas irresponsáveis de pessoas que governam; entender isso é fundamental, uma vez que é uma condição importante na busca de soluções para as nossas crises, que passa pela reinvenção do nosso sistema político para que possa responder aos desafios do país, nomeadamente a inclusão social, económica e política", concluiu.