Moçambique podia ter evitado as divergências com a SADC se tivesse sido transparente na forma como tratou a questão do envio do contingente militar ruandês para ajudar as forças moçambicanas na luta contra o terrorismo em Cabo Delgado, dizem analistas.
O presidente moçambicano reiterou, nesta segunda-feira, 12, que a Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) abriu espaço para que o país recebesse apoios bilaterais no combate ao terrorismo em Cabo Delgado, considerando que o país é soberano.
Tal é visto como uma reação à afirmação da ministra sul-africana da Defesa de que independentemente do acordo bilateral seria expectável que a intervenção do Ruanda acontecesse no âmbito do mandato regional decidido pelos chefes de Estado da SADC.
“Nós somos um país soberano e a SADC respeita isso”, declarou Filipe Nyusi.
Transparência
O pesquisador Borges Nhamirre não vê qualquer problema nisso, porque Moçambique "já tem apoio militar dos Estados Unidos da América e de alguns países da região, nomeadamente, Botswana e Zimbabwe; tinha, inclusive apoio militar da África do Sul no treinamento e operações na costa moçambicana, a partir da Ponta de Ouro até Palma".
Para Nhamirre, o problema é a forma como este assunto está a ser tratado.
"No caso da SADC, o envio de tropas foi aprovado durante a cimeira da organização realizada em Maputo, e foi comunicado às Nações Unidas, mas relativamente à intervenção do Ruanda, a informação não foi disponibilizada; é uma questão de transparência", disse.
O analista Moisés Mabunda, também é de opinião de que a questão fundamental nestes diferentes pontos de vista entre Moçambique e a África do Sul e a SADC, de uma forma geral, é a falta de comunicação.
"Houve falta transparência, e eu penso que a África do Sul tel alguma razão, porque há aqui falta de comunicação precisa e aberta com todas as partes," disse Mabunda.
Constituição violada
A chegada de tropas ruandesas para apoiar as forças moçambicanas também foi criticada pelo partido Renamo, que acusa o executivo de violar a Constituição por não ter colocado o assunto na Assembleia da República.
Para o presidente da Renamo, Ossufo Momade, os militares ruandeses estão no país de forma ilegal, na medida em que a Assembleia da República não teve conhecimento e os próprios países que fazem parte [SADC] foram apanhados de surpresa".
"O chefe de Estado moçambicano violou a Constituição por não ter colocado o assunto em debate no parlamento", acusou aquele líder partidário, realçando que "o que nós pensávamos que iria acontecer era que a SADC viria com a sua força a partir do dia 15, mas ficarmos surpreendidos quando percebemos que primeiro chegou a força ruandesa, o que preocupa aos moçambicanos".
O partido MDM entende também que o assunto devia ter sido discutido na Assembleia da República e espera que seja analisado ao nível do Conselho Nacional de defesa e Segurança, segundo Sande Carmona, seu porta-voz.