Um total de 1.618 famílias - cerca de nove mil pessoas - continuam sitiadas e sem comida, em Mazvissanga, na sequência da passagem do ciclone Eloise, a 23 de Janeiro.
Esta pacata aldeia do interior do distrito de Machaze, província de Manica, teve os acessos intransitáveis devido à subida dos caudais dos rios Save, a sul; e rio Chingowe, a norte.
Sem comunicação por terra, Mazvissanga perdeu o reabastecimento de produtos básicos.
Segundo relatos de moradores, a situação agravou a já severa insegurança alimentar que a população atravessava, devido à fraca colheita na campanha agrícola passada.
“Começamos a passar muito mal com fome desde o dia 29, porque os carros já não transitavam para cá, e ninguém podia comprar nada” disse à VOA Eliás Mazinhanja, adiantando que as pessoas se alimentavam de sopas à base folhas de mandioca “para não morrer à fome".
“Tivemos que passar dias a fio com fome, porque as bancas (o mercado) já não tinham produtos, e até agora não têm nada, nem açúcar, nem bolachas, quase que estamos numa ilha” explicou Samuel Felisberto, um morador local.
O camponês de 37 anos contou que as mulheres grávidas foram as mais atingidas pela fome naquela aldeia, porque as sopas de folhas de mandioca, preparadas com água e sal não “davam para sustentar um corpo” por muito tempo.
Os campos de cultivo nesta aldeia, na sua maioria, continuam inundados, aumentando o desespero da população que depende da agricultura de sequeiro. A colheita deste ano, que seria entre Abril e Maio, começa a ser dada como perdida.
Ponte aérea
As autoridades de Manica começaram a fazer uma ponte aérea para abastecer com víveres as 1.618 famílias sitiadas, mas até esta quarta-feira, 3, apenas 130 famílias tinham sido abrangidas. O helicóptero usado tem a capacidade de até 600 quilogramas de carga por voo.
Deolinda Chitsumba, substituta da administradora de Machaze, disse que na distribuição do “kit” de cereais e leguminosas estão a ser priorizadas famílias com membros que sofrem de desnutrição.
O que distribuímos “é suficiente para alimentar cada família por duas semanas” disse Chitsumba.
O delegado em Manica do Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD), Alexandre Augusto, disse que dez toneladas de produtos alimentares serão distribuídos à população, enquanto contactos estão em curso para o reforço de alimentos com o Programa Mundial da Alimentação (PMA).
Dados da ONU indicam que pelo menos 22 pessoas morreram e centenas de milhares foram afetadas na África Austral pela tempestade Eloise, na semana passada. Em Moçambique morreram 12 pessoas. As restantes mortes foram na África do Sul, Zimbabwe, eSwatini (antiga Suazilândia) e Madagáscar, segundo os mais recentes dados oficiais.