Analistas e políticos desqualificam a intenção do convite do Presidente moçambicano aos quatro candidatos presidenciais para debater formas de pôr fim às manifestações contra o processo eleitoral, considerando que o mesmo não é genuíno, sobretudo porque na sua comunicação à nação, Filipe Nyusi não faz qualquer menção às causas das contestações.
Os analistas são, no entanto, unânimes em afirmar que a ideia de diálogo é boa, mas neste caso peca por ser tardia, sublinhando que devia ter havido sensibilidade suficiente para promover o encontro com todas as partes, o que a sociedade civil havia apelado.
As manifestações foram convocadas por Venâncio Mondlane, do PODEMOS, tal como os outros candidatos da oposição afirma que as eleições de 9 de Outubro foram fraudulentas.
O analista político Tomás Vieira Mário faz críticas ao estadista moçambicano, porque o tom da sua comunicação é de lamentar os danos materiais e as mortes causados pelas manifestações, “e não faz uma única menção às causas dessas manifestações e logo a seguir convida ao diálogo”.
Mário diz que “se formos a ler a lógica da comunicação, parece que este diálogo é para convencer a oposição a parar com as manifestações, porque o Presidente da República e o partido Frelimo têm reiterado que não há diálogo sobre seja o que for antes que o Conselho Constitucional proclame os resultados, pelo que estou céptico sobre qual é a intenção e quais podem ser os resultados desse diálogo no quadro da crise eleitoral’’.
Gravidade
Aquele analista critica também o facto de a Procuradoria-Geral da República (PGR) fazer processos cíveis contra Venâncio Mondlane e o presidente do PODEMOS, acrescentando que isso mostra algo de muito grave, “que diferentes braços do Estado não sabem o que estão a fazer’’.
Para aquele analista a PGR é muito importante, “e não pode este órgão instaurar processos quase intimidatórios e bloqueadores de líderes políticos como Venâncio Mondlane e o presidente do PODEMOS, ao mesmo tempo que o Presidente da República os convida para o diálogo (...) em que condições viria Venâncio Mondlane para esse diálogo’’.
Criticas ao discurso do Presidente Nyusi são feitas também pelo analista político Ivan Mausse, não apenas por ser tardio, mas sobretudo por apelar ao diálogo num contexto em que um dos convidados é alvo de um processo cível.
Mausse afirmou ainda que “ao longo deste processo todo, não são públicas as situações em que a Procuradoria-Geral da República abriu um processo crime contra a polícia, que de alguma forma violou aquilo que é o princípio das manifestações’’.
Agenda desconhecida
Entretanto, a Renamo, por via do seu porta-voz, Marcial Macome, diz que não recebeu qualquer convite formal do Chefe de Estado e não sabe qual é a agenda desse encontro, mas esclarece que o partido só participará numa eventual reunião depois de o Conselho Constitucional decidir pela anulação das eleições, “e daí pensar-se num modelo de Governo de gestão do país’’.
“Neste momento, qualquer conversa que não seja fruto da deliberação da Comissão Nacional de Eleições ou do Conselho Constitucional é irrelevante’’, enfatiza Macome, recordando que durante a campanha eleitoral o partido “havia alertado para a necessidade de se acautelar para que as eleições fossem livres e transparentes, porque de contrário a Renamo não estaria disponível para negociar seja qual fosse a situação’’.
E o presidente do PODEMOS, Albino Forquilha, diz que não vê matéria para o encontro pedido pelo Presidente Filipe Nyusi com os quatro candidatos presidenciais para travar as manifestações contra o processo eleitoral.
“Nós defendemos a recontagem transparente dos votos”, reafirma Forquilha.
Recorde-se que, tal como a VOA já noticiou, Filipe Nyusi, no apelo aos quatro candidatos presidenciais, disse que ‘’os moçambicanos precisam de se unir para acabar com a situação que pode levar o país a uma anarquia’’.
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