O candidato presidencial da Frelimo, Daniel Chapo, efetuou, no dia 15 deste mês, uma visita ao Ruanda, não anunciada publicamente pelas autoridades moçambicanas, o que é alvo de críticas por alegada falta de transparência.
A noticia foi avançada esta quinta-feira, 20, pela publicação Zitamar News, que cita fontes que confirmaram que a deslocação pode ter incluído uma audiência com Paul Kagame, e na qual esteve também presente o presidente moçambicano, Filipe Nyusi.
Neste momento, a área visível de cooperação entre os dois países é a militar, limitada à presença de soldados ruandeses em Cabo Delgado, onde combatem insurgentes.
Alguns políticos e analistas dizem-se cépticos relativamente a esta deslocação, porque Kigali não é um bom modelo de cooperação, particularmente pela forma como o presidente Paul Kagame trata os seus opositores.
O porta-voz da Renamo, Jose Manteigas, diz que o seu partido está muito preocupado com o relacionamento entre Maputo e Kigali, sobretudo pela forma como Filipe Nyusi trata assuntos do Estado moçambicano com o Ruanda.
Manteigas refere que quando o Presidente Nyusi mandou vir o primeiro contingente militar do Ruanda e a força da SADC “não consultou o Parlamento (...) e agora estamos a ver que esta relação está a fortificar-se cada vez mais, tanto é assim que estão a chegar mais 2.500 homens ruandeses’’.
Postos estratégicos
A Renamo “está apreensiva, porque a tropa ruandesa em Cabo Delgado já começa a praticar atos que na prática deviam ser do Estado moçambicano e não do Estado ruandês, criando uma situação que não sabemos como gerir no futuro”.
‘’Vamos assumir que a visita aconteceu mesmo, e esta se insere dentro da mesma perspetiva em que Daniel Chapo foi à Tanzania e agora está no Zimbabwe, como candidato da Frelimo e potencial próximo Presidente da República’’, afirma o analista político Fernando Lima, avançando que tradicionalmente os candidatos do partido no poder, nestas actividades de pré-campanha, têm visitado os seus aliados.
Lima diz que não ficaria admirado se houvesse uma deslocação à Europa, tendo em conta os compromissos internacionais em relação aos grandes investimentos como são os do gás em Cabo Delgado, “e tendo o Ruanda um papel importante na defesa de postos estratégicos naquela província, é natural que Daniel Chapo tivesse ido encontrar-se com Paul Kagame’’.
Algumas vozes dentro e fora da Frelimo questionam a forma como o presidente Paul Kagame trata os seus opositores políticos, o que para Fernando Lima ‘’é normal que isso aconteça, mas os interesses que são a força dominante dentro deste partido neste momento, entendem o papel do Ruanda de maneira diferente, e há claramente um ‘forcing’ para que tudo continue tal como tem vindo a acontecer até aqui em Cabo Delgado, incluindo esta relação entre Moçambique o Ruanda’’.
Perseguição e morte de opositores
Ivan Mausse, pesquisador do Centro de Integridade Pública, insere as deslocações de Daniel Chapo ao Ruanda no âmbito da pré-campanha. “Nós não podemos pensar que o terrorismo em Cabo Delgado vai terminar com o fim do mandato do Presidente Nyusi, é uma questão que pode continuar (...) e o facto de Nyusi se ter aproximado do Ruanda, não significa que Daniel Chapo não o possa fazer”, afirma.
Mas, diz Mausse, se a deslocação de Chapo “for para buscar inspiração na forma de governação de Paul Kagame, ai pode-se levantar algum tipo de problema’’.
Noutra linha, para o analista político Luis Nhachote “parece que o Presidente Nyusi quer continuar a tratar deste assunto estando fora do poder, transferindo-o para um fórum privado com o candidato presidencial do Partido Frelimo’’.
Nhachote anota que muitos opositores de Paul Kagame dizem que a partir do momento em que as tropas ruandesas começaram a chegar a Cabo Delgado ficaram com medo, por causa do histórico de perseguição e mortes em Moçambique.
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