O gabinete do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, disse que ele não tinha respondido à proposta de cessar-fogo e que tinha dado instruções aos militares israelitas para continuarem a lutar “com toda a força”.
A proposta de cessar-fogo surgiu na quarta-feira, numa declaração em que se dizia que o conflito entre Israel e o grupo militante Hezbollah “é intolerável e apresenta um risco inaceitável de uma escalada regional mais alargada”.
A declaração multinacional refere que um cessar-fogo permitiria a realização de negociações com vista a uma solução diplomática coerente com as resoluções do Conselho de Segurança da ONU que exigem o fim dos confrontos entre Israel e o Hezbollah, bem como um cessar-fogo entre Israel e os militantes do Hamas na Faixa de Gaza.
A Austrália, o Canadá, a Alemanha, a Itália, o Japão, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Qatar também se juntaram ao apelo ao cessar-fogo, afirmando que um conflito regional mais alargado “não é do interesse de ninguém, nem do povo de Israel nem do povo do Líbano”.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Jean-Noël Barrot, disse ao Conselho de Segurança na quarta-feira que se deslocaria a Beirute no final desta semana para trabalharcom as partes interessadas locais numa resolução diplomática do conflito.
Os acontecimentos surgem após alguns dos dias mais mortíferos no Líbano desde que a guerra civil terminou no início da década de 1990.
Invasão terrestre?
O chefe do exército israelita disse na quarta-feira que as suas tropas devem estar preparadas para uma possível invasão terrestre do Líbano, enquanto os caças israelitas bombardearam alvos dos militantes do Hezbollah pelo terceiro dia consecutivo e os militantes lançaram um míssil balístico que tinha como alvo a sede da agência de informação israelita Mossad, perto de Telavive, que Israel abateu.
O primeiro-ministro interino do Líbano deslocou-se a Nova Iorque para participar na reunião do Conselho de Segurança.
“Israel está a violar a nossa soberania, enviando os seus aviões de guerra e drones para os nossos céus; matando os nossos civis, incluindo jovens, mulheres e crianças; destruindo casas e obrigando as famílias a fugir em condições humanitárias difíceis”, afirmou Najib Mikati. “Além disso, estão a espalhar o terror e o medo entre os cidadãos libaneses à vista de todo o mundo, que assiste a tudo sem fazer nada.”
Najib Mikati rejeitou as afirmações israelitas de que apenas visam os militantes e os bens do Hezbollah, salientando que os hospitais do país estão sobrecarregados de vítimas. Mikati apelou à ação do Conselho de Segurança.
O embaixador de Israel afirmou que o seu governo não pretende uma guerra em grande escala e que está aberto a uma solução diplomática. Danny Danon afirmou que Israel está apenas a fazer o que qualquer outro país faria se os seus cidadãos estivessem sob ameaça.
O Hezbollah quebrou uma relativa calma ao longo da fronteira após o ataque terrorista do Hamas a Israel, em 7 de outubro, que desencadeou a guerra de Gaza. Segundo Israel, o Hezbollah disparou cerca de 9.000 foguetes contra comunidades do norte de Israel desde então. O grupo militante afirma estar a agir em solidariedade com os palestinianos e com o seu aliado apoiado pelo Irão, o Hamas. Os combates mataram 49 pessoas em Israel, juntamente com centenas no Líbano, e deslocaram dezenas de milhares de pessoas de ambos os lados da fronteira.
Israel também afirmou ter ativado tropas de reserva para responder à luta contra os militantes do Hezbollah, apoiados pelo Irão.
O Ministro dos Negócios Estrangeiros do Irão encontra-se em Nova Iorque para a Assembleia Geral.
“O Irão não ficará indiferente no caso de uma guerra em grande escala no Líbano”, disse Abbas Araghchi aos jornalistas. “Estamos ao lado do povo do Líbano, com todos os meios”.
Ainda há tempo para a diplomacia
Em Washington, os responsáveis militares insistiram que ainda há tempo para a diplomacia e para o desanuviamento.
“Queremos ver uma solução diplomática, e queremos vê-la urgentemente”, disse a secretária de imprensa adjunta do Pentágono, Sabrina Singh, salientando que as forças armadas dos EUA não estão a fornecer a Israel qualquer informação ou apoio militar para as suas operações no Líbano.
As autoridades americanas manifestaram a sua preocupação com o facto de os combates, combinados com erros de cálculo e de percurso, poderem dar origem a um conflito maior e mais perigoso.
“Uma guerra total é possível”, disse o Presidente Joe Biden ao programa de entrevistas da ABC The View.
“O que eu acho é que ainda existe a oportunidade de chegar a um acordo que poderia mudar fundamentalmente toda a região”, afirmou.
A guerra em Gaza começou com o ataque do Hamas ao sul de Israel, em outubro de 2023, no qual os militantes palestinianos mataram cerca de 1200 pessoas e fizeram cerca de 250 reféns. Ainda mantêm em cativeiro cerca de 100 pessoas, um terço das quais se pensa estarem mortas.
Os ataques aéreos e terrestres israelitas mataram mais de 41 400 palestinianos, na sua maioria mulheres e crianças, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza, tendo os militares israelitas afirmado que o número de mortos inclui milhares de combatentes do Hamas.
O Hamas foi designado como grupo terrorista pelos Estados Unidos, Reino Unido, União Europeia e outros. O Hezbollah também é um grupo terrorista designado pelos EUA.
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