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Milhares de pessoas continuam a fugir do conflito em Cabo Delgado, diz o bispo de Pemba


Cabo Delgado, deslocados de Palma abrigado no centro desportivo de Pemba
Cabo Delgado, deslocados de Palma abrigado no centro desportivo de Pemba

Apoio é insuficiente

O bispo católico de Pemba, António Juliasse Sandramo, disse nesta terça-feira, 6, que milhares de pessoas continuam a ser forçadas a abandonar as casas fugindo de ataques jihadistas em zonas onde o conflito prossegue, apesar do aparente abrandamento.

Milhares de pessoas continuam a fugir do conflito em Cabo Delgado, diz o bispo de Pemba
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Sandramo classificou a situação de Cabo Delgado de “muito preocupante”.

O movimento de deslocados “não parou”, frisou o administrador apostólico da Diocese de Pemba, e acrescentou que a “tensão é muito grande” na província, que desde 2017 tem assistido a uma violência armada do grupo de jihadistas associado ao Estado Islâmico.

Aquele religioso disse que muitas pessoas estão a deixar aldeias do interior de Palma, o distrito do megaprojeto bilionário de gás natural, que sofreu em Março o ataque mais visível do grupo terrorista filiado ao Estado Islâmico.

“Cabo Delgado continua uma situação muito preocupante. As pessoas continuam a fazer movimentos de deslocação das zonas onde o conflito está a ocorrer. E temos já nos últimos dias (pessoas de Palma) a chegarem a Chiúre, então quer dizer que a situação não está tranquila”, disse Sandramo, que receia que a nova vaga de deslocados venha deteriorar a já crítica crise humanitária na província.

Um novo movimento de deslocados, prosseguiu, começou igualmente a se verificar nas famílias hospedeiras, que não “suportando mais” a assistência que davam aos deslocados, começaram a dispensá-los para procurar abrigo nos campos de deslocados condicionados pelo Governo.

Incapacidade

“Na província de Cabo Delgado, não existe distrito que não tenha deslocado, não tenha campo de reassentamento de deslocados", sublinhou.

O religioso disse que localmente “há um sentimento de incapacidade” na resposta humanitária aos deslocados. “Ninguém há de dizer que está preparado para dar uma resposta”.

A VOA ouviu famílias deslocadas, com numerosos membros, que chegaram recentemente a Pemba e Metuge, que descreveram uma situação de desespero por falta de abrigo e alimentos.

“Eu vim com um grupo de 26 pessoas da minha família e três filhos. Vou ao comando da Polícia para me apresentar ou vou ao governador provincial para apresentar minha situação” disse Mohamed Adade, pouco depois de desembarcar, em Paquitequete.

Um outro morador de Palma, disse que “não sei onde vou, porque a viagem não planifiquei. Só sai por emergência”.

Apoio

No sábado, 3, aterrou em Pemba o primeiro de três aviões que vão garantir a ponte aérea humanitária da União Europeia, com 15 toneladas de “equipamentos que salvam vidas”, para apoiar a população afectada pela violência armada em Cabo Delgado.

O Secretário de Estado de Cabo Delgado, António Supeia, que a população deslocada enfrenta várias necessidades, sobretudo “abrigo e alimentação (…) para levar uma vida condigna”.

"Nós vamos fazer chegar esses apoios aos destinatários, de forma que se recomponham das necessidades que eles enfrentam neste momento, e usando este exemplo da União Europeia, apelar outras organizações para que sigam este exemplo,” disse Supeia.

A 24 de Março, os militantes ligados ao Estado Islâmico lançaram ataques coordenados a Palma, pilhando edifícios e assassinando residentes, à medida que milhares fugiam e forçando a retirada da área da gigante petrolífera Total, que lidera o projecto de gás de Afungi.

O ataque de Março marcou uma intensificação da violência de três anos que expulsou cerca de 800 mil pessoas das suas casas e matou outras 2.900, segundo a ONU e ACLED, uma organização de recolha de dados de conflitos.

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