O Presidente brasileiro Michel Temer admitiu nesta segunda-feira, 17, ser “constrangedor” ver o país envolvido na série de denúncias de corrupção por parte de antigos executivos da empreiteira Odebrecht e que alguns dos seus ministros possam pedir demissão.
"É muito provável que alguns ministros fiquem desconfortáveis e acreditem que não podem continuar", disse Temer em entrevista por telefone à rádio Jovem Pan, acrescentando, no entanto, que não irá mudar sua linha de actuação.
"Não vou demitir ou exonerar porque alguém falou de outro. Quando houver provas robustas, pela hipótese da denúncia, daí começo a tomar providências", justificou Temer que disse ainda ser “constrangedor” e “extremamente desagradável” ter sido citado nas delações da Odebrecht como tendo negociado recursos ilegais para o PMDB.
"É uma inverdade”, reiterou o Presidente, assegurando que as revelações não irão “prejudicar a governabilidade”.
Numa das revelações tornadas públicas na semana passada, um dos executivos da Odebrecht, Márcio Faria, afirmou ter tido uma reunião no escritório de Temer em São Paulo em 2010, onde se tratou do pagamento ao PMDB de luvas de um contrato da Petrobras.
O Presidente negou, primeiro em nota e depois em vídeo distribuído nas redes sociais, ter participado da negociação, mas admitiu a reunião.
O executivo da empreiteira disse que entregou aos procuradores um email mostrando que participaria da reunião no endereço do escritório de Temer.
Questionado na entrevista à rádio Jovem Pan se não achava preocupante o grau de corrupção revelado pelas delações da Lava Jato, o Presidente concordou que era "estarrecedor, preocupante e muito desagradável", mas que as acusações não podem paralisar o país.
"Devo dizer que não pode prejudicar a governabilidade. A tendência é dizer que o Governo vai parar, mas o Governo não pode parar. Digo que não vamos parar", afirmou, lembrando que no domingo houve uma reunião no Palácio da Alvorada sobre a reforma da Previdência e outras acontecerão esta semana, com a leitura do relatório na comissão especial na terça-feira.
Temer admitiu, mais uma vez, que a reforma que deve ser apresentada pela relator não será para durar 30 ou 40 anos, como o governo pretendia originalmente, mas disse que é necessário negociar com o Congresso e isso não significa um recuo.
Na entrevista, o Presidente brasileiro negou ainda as informações de que estaria negociando com os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Henrique Cardoso um acordo para tentar minimizar os efeitos da Lava Jato e "salvar a política".
A única conversa que manteve com os antecessores foi depois da morte da ex-primeira-dama Marisa Letícia, em que Lula teria sugerido uma reforma política, revelou.
"Fazer um acordão para solucionar os problemas que hoje estão entregues ao Poder Judiciário é absolutamente inviável. Não participo e não promovo", afirmou, acrescentando que uma conversa entre os três só seria viável sobre a reforma política.