O escritor moçambicano Mia Couto esforça-se para concluir uma trilogia na qual está a trabalhar há cerca de seis anos.
Para terminar o primeiro volume dessa trilogia, Couto foi à Itália no ano passado e ficou fechado, em isolamento total, num castelo, durante um mês.
Foi, como ele disse à VOA, uma iniciativa que produziu excelentes resultados e é por isso que decidiu repetir a experiência.
Só que, desta vez, o destino é Portugal, Ilha Terceira, para ser mais concreto, onde vai ficar 30 dias.
Mas não foi por acaso que escolheu aquele local.
A trilogia que Mia Couto está a preparar vai abordar os últimos dias do Império de Gaza, dirigido por Ngungunhana, e que ficou conhecido como o segundo maior em África liderado por um africano.
Esse imperador, que praticamente dominou a metade sul do que é hoje Moçambique, ainda é um personagem de histórias e lendas.
Foi aprisionado em 1895 e desterrado para os Açores depois de derrotado pelas forças de Mouzinho de Albuquerque, no que ficou conhecido como o mais determinante passo para uma dominação completa do território moçambicano por Portugal.
Daí, relembra Mia Couto, a importância de estar nos Açores.
O escritor está a contar a história através de uma menina da etnia chope que, no tempo do Imperador Ngungunhana, sofreu muito com a presença dos ocupantes.
Ngungunhana, cujas ossadas foram simbolicamente entregues a Moçambique em Junho de 1985, é considerado um herói, mas Mia Couto tem outra opinião.
Além de Portugal, o escritor vai de novo às províncias de Gaza e Inhambane, sul de Moçambique, para ouvir testemunhos de descendentes de Ngungunhana.
Mia Couto espera concluir o livro este ano e prevê publicar uma colecção de comunicações que fez em congressos e um livro de poesias no princípio de 2017.
Mia Couto, que nasceu em 1955 na Beira, é um dos mais importantes escritores de língua portuguesa e o mais traduzido autor moçambicano.
Tem neste momento publicados mais de trinta títulos, entre prosa e poesia.
O seu romance “Terra Sonâmbula” foi considerado um dos 10 melhores livros africanos do século 20.
Recebeu numerosos prémios literários, entre eles o Prémio Camões de 2013, o mais prestigiado da língua portuguesa.
O seu livro “Confissão da Leoa” sai este ano na China e será o primeiro de um escritor moçambicano a ser publicado e lido em mandarim.
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