A segunda absolvição de Donald Trump pelo Senado americano – agora por incitamento à insurreição – pode ser interpretada à primeira vista como uma derrota para o Partido Democrata, que desde o início do processo sabia que iria ser extremamente difícil, senão impossível, alcançar os dois terços de votos para garantir a impugnação e assim impedir que Trump pudesse voltar a candidatar-se de novo a qualquer cargo político.
Mas na verdade – e pelo menos a curto prazo – quem parece ser mais prejudicado por esse julgamento inconclusivo é o Partido Republicano.
A segunda absolvição pelo Senado de Donald Trump levanta de novo a discussão sobre futuro do antigo Presidente, o que carrega enormes problemas para os republicanos.
Trump continua a gozar de apoio substancial nas bases do Partido Republicano e, dizem muitos analistas, o facto de apenas sete republicanos terem votado a favor da impugnação do Presidente atesta bem a força que ele continua a ter dentro do partido.
Alguns dizem que sem acesso ao seu meio de comunicação favorito, o Twitter, e fazendo agora face a inúmeras investigações aos seus inúmeros negócios, qualquer que seja esse apoio, Trump não tem qualquer possibilidade no futuro.
Um deles é Frank Luntz, especialista em sondagens do Partido Republicano, que disse à cadeia de televisão do Canadá que “o significado (do julgamento) para Donald Trump é que mancha para sempre a sua imagem e embora ele seja ainda um herói para cerca de 20 por da América ....para mais de metade da América ele é um vilão genuíno”.
“Não há sequer uma pequena réstea de esperança para ele se alguma vez quiser voltar à política”, assegurou Luntz.
Base Republicana ainda de forte apoio a Donald Trump
Mas Gillian Turner, da cadeia de televisão Fox, não concorda afirmando que Trump continuará a ter grande poder dentro do Partido Republicano e cita o Senador Lindsay Graham que disse que o seu voto por absolvição tinha como razão de fundo garantir o triunfo em futuras eleições.
“Eu penso que o Presidente Trump continua a ter um controlo muito apertado sobre a vasta maioria do Partido Republicano, talvez não sobre todos os políticos com cargos mas sobre a maior parte”, disse Turner para quem “o voto de absolvição demonstra isso”.
“Ele continua a ter um nível de aprovação de 87% entre republicanos e penso, portanto, que essas duas coisas em conjunto demonstram exactamente o que Lindsay Graham disse”, afirmou a correspondente da Fox para quem mais importante “é saber se o líder dos republicanos no Senado tem algum controlo sobre o seu grupo parlamentar".
“Penso que isso é muito menos claro do que a questão de Trump”, acrescentou.
Divisões dentro do Partido Republicano
O líder republicano no Senado, Mitch McConnel teve palavras ásperas à actuação de Donald Trump durante a invasão do edifício do Congresso mas votou pela sua absolvição alegando princípios constitucionais e isso pode levantar-lhe problemas.
Por exemplo, o senador epublicano Bills Cassidy votou a favor da impugnação do antigo Presidente e de imediato foi alvo de uma censura por parte de republicanos no seu Estado, a Louisiana, levantando-se a hipótese de ele e outros que fizeram o mesmo terem que fazer face em eleições primárias contra republicanos que apoiam incondicionalmente Trump.
Para além de Cassidy, há outros na mesma posição como a Senadora Liz Chenney.
Mas Cassidy mostrou-se confiante que com o tempo a força de Trump "vai desvanecer-se”.
“O Partido Republicano é mais do que uma pessoa. O Partido Republicano são ideias”, disse o senador para quem “o povo americano quer essas ideias mas quer também um líder que pode assumir a responsabilidade pelas suas acções e um líder em quem podem confiar”.
“Penso que teremos uma liderança diferente mas ainda com essas ideias”, disse.
De imediato contudo o que é certo é que o Partido Republicano faz face a uma crise de identidade reflectida em divisões internas entre a base “trumpista” e aqueles que querem alargar a base de apoio do partido com olhos nas legislativas de 2022.
E se essas divisões continuarem por muito temo quem ganhou com o julgamento de Trump foi o Partido Democrata.