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Mediação feminina nas crises políticas na Guiné-Bissau, uma oportunidade adiada


Palácio do Governo da Guiné-Bissau
Palácio do Governo da Guiné-Bissau

A Guiné-Bissau vive há décadas crises políticas que não têm permitido ao próprio país determinar as melhores políticas públicas e de forma permanente.

Muitos são os relatórios que apontam para a necessidade do fim dessa estabilidade, mesmo que, como se viu nos últimos seis anos, ela não seja originada por golpe de Estado ou tenha como pano de fundo qualquer conflito armado.

Ao representar 52 por cento da população e ser a garante de grande parte, senão a maioria, do sustento das famílias, a mulher guineense tem estado também à margem do processo de político.

Mas elas têm dito presente e, segundo organizações da chamada sociedade civil, as mulheres desejam e podem desempenhar um papel de mediadoras nesse permanente ciclo de crises políticas já que, como dizem algumas ativistas, como mães elas estão na primeira linha das vítimas desses mesmos conflitos.

Um exemplo "esquecido"

Em 2015, uma mediação importante de um grupo de mulheres para tentar por fim à crise política de então, avançou bem e chegou a produzir uma plataforma de entedimento que, no final, foi ultrapassada e colocada de lado por aquilo que a investigadora Caterina Gomes Viegas, chama de “mediação formal”, ou seja pelas estruturas políticas.

Aquela doutoranda que tem em preparação junto do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, em Portugal, uma tese sobre mediação de crises, tendo como caso de estudo a etnia papel, acredita que o processo de mediação tanto formal como informal tem instrumentos que permitem ajudar na resolução de crises, tanto políticas como familiares.

“A mediação é um dos principais métodos para a resolução de conflitos e um dos que mais conseguem resultados”, acrescenta Gomes Viegas, ressalvando que quando “o processo é respeitado é possível ter resultados”.

Caterina Gomes Viegas, investigadora
Caterina Gomes Viegas, investigadora

Ela destaca, no entanto, a “discriminação de que são vítimas as mulheres na área política, que é excessivamente masculinizada”.

“E isto coloca em causa a democracia”, sublinha aquela investigadora, que alerta também para a instabilidade cíclica do país.

Instabilidade e violência

Após a luta armada pela Independência, a Guiné-Bissau nasceu, como país, com um regime de partido único, uma génese que, no entender da jurista, gestora pública e ativista Nelvina Barreto, marcou o país e a classe política.

“O país tem vivido quatro décadas de instabilidade permanente, devido à guerra em torno do controlo dos recursos e da falta de cultura democrática da sua classe política”, acrescenta Barreto, para quem essa instabilidade permanente afeta a todos e principalmente a mulher que, ao mesmo tempo, “não é reconhecida nos seus direitos, não é reconhecida no seu valor, na sua capacidade de trabalho” e que é também “a grande vítima da cultura de ´matchundadi´, ou seja do machismo, que é transversal à sociedade guineense”.

Nelvina Barreto, jurista e gestora pública
Nelvina Barreto, jurista e gestora pública

A antiga ministra da Agricultura e Floresta do Governo de Aristides Gomes acrescenta ainda que o espaço político é marcado por uma “extrema violência” que, no primeiro momento, “faz fugir as mulheres porque são elas o sustento das familais e quando há violência elas tendem a resguardar-se para continuarem a ser as provedoras das suas famílias.

Barreto sublinha, por exemplo, a fraca presença das mulheres no Parlamento e no atual Governo que “tem apenas três mulheres ministras”.

Na rubrica Agenda Africana, Caterina Gomes Viegas e Nelvina Barreto analisam o papel das mulheres da mediação das crises políticos e seus caminhos futuros.

Ouça aqui, Agenda Africana:

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