Seis décadas após o denominado Massacre da Baixa de Cassanje, na província angolana de Malanje, pelos tropas coloniais portugueses, descendentes das vítimas clamam por ajuda do Governo e defendem que o dia 4 de Janeiro deve ser declarado feriado nacional, em memória dos que morreram na tragédia que terá dado o mote para a luta de libertação nacional.
Na altura, milhares de camponeses protestaram na região da Baixa de Cassanje, em Malanje, contra os preços baixos praticados pelo grupo comercial luso-belga Companhia Geral dos Algodões de Angola “Cotonang” e os maus-tratos impostos pelo regime colonialista português.
O Governo colonial reprimiu a manifestação com uma acção militar que matou mais de seis mil pessoas em várias aldeias nas províncias de Malanje e Lunda Norte.
Sessenta e um anos depois, os sobreviventes e filhos defendem mais apoios por parte das autoridades governamentais para dignificar a acção heróica de angolanos que galvanizou a luta contra a opressão portuguesa.
Alberto Magalhães, actual soba Teka-Dia-Kinda, à época com nove anos de idade, diz esperar das autoridades angolanas o cumprimento das promessas do primeiro Presidente de Angola: a construção de um bairro piloto e um memorial das vítimas da repressão colonial.
“Se aqui o Agostinho Neto disse para meter um bairro piloto, desde aquela data [1979] até hoje só uma escola, todas [as crianças] vão estudar no Quela desde a 4ª classe à 6ª classe, nós aqui não temos”, afirma aquela autoridade tradicional.
O professor universitário Simão Coxe realça que os acontecimentos daquela altura foram singulares para a história da luta contra o regime colonial português.
“O 4 de Janeiro por mim devia continuar a ser feriado porque não sendo feriado retira o carácter do 4 de Janeiro, desprestigia as pessoas que sofreram nesse dia”, justifica.
O director do Gabinete Provincial dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, Ananias Gomes, destaca que o Massacre da Baixa de Cassanje foi o prelúdio da luta que conduziu à independência nacional alcançada a 11 de Novembro de 1975.
“Porque por via das negociações o colonialismo português não aceitou, eles tiveram que pagar em armas para se libertar para conquistar a independência de Angola. Era um problema, o colonialismo era um problema. Politicamente era possível resolver? Não!”, questionou, acrescentando que “tiveram coragem de segurar em armas e durante 14 anos permanecer nas matas de Angola a lutar contra as tropas portuguesas”.
Acto central em Cabinda
Entretanto, em Cabinda, no acto central alusivo ao dia dos "Mártires da Repressão Colonial", no Centro Cultural Chiloango, o ministro da Defesa Nacional e Veteranas da Pátria defendeu uma maior divulgação do dia para que os seus feitos sejam amplamente conhecidos pela população e muito em particular pela juventude que os deverá enaltecer no futuro.
João Ernesto dos Santos lembrou que a revolta dos camponeses da Baixa de Cassanje é um episódio marcante na história de Angola, cuja repercussão e impacto político histórico está registado com letras de ouro e que jamais será esquecido pelo povo angolano.