O investigador moçambicano e director do Centro para Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, defende que Maputo precisa de balancear as acções para evitar a maldição de recursos, com resposta militar à insurgência em Cabo Delgado e capacitação para buscar partilhas na produção de gás.
A violência armada em Cabo Delgado está a provocar uma grave crise humanitária e de direitos humanos com quase 700 mil deslocados e 2.600 mortes, metade delas civis, de acordo com a agência americana de coleta de dados Armed Conflict Location and Event Data (ACLED).
Nuvunga entende que esse extremismo violento encontrou lugar devido à desafeição económica da população, que vive na pobreza extrema numa terra coberta de riqueza, e Maputo não pode continuar na situação de “um Estado sem capacidade” para atender aos desafios prementes de desenvolvimento.
“Hoje estamos com a insurgência, ou estamos com o extremismo violento, que nos atrapalha em relação à boa governação do sector extrativo” disse à VOA Adriano Nuvunga, que receia que o país se afunde em dívidas para combater a insurgência.
“A altura que isto (insurgência) passar vamos ter perdido muito das reformas necessárias para que o Estado possa ter capacidade para ir buscar as receitas e a partilha de produção (do gás) e poder ombrear com essas empresas internacionais, porque elas têm muitas estratégias para fugir ao fisco” acrescentou.
Moçambique, prosseguiu Adriano Nuvunga, deve evitar cair na situação global da maldição dos recursos e iniciar intervenções económicas que permitam que a população comece a usufruir ganhos dos mega-projectos antes do começo da exploração do gás.
Proliferação militar
Adriano Nuvunga entende que a proliferação de empresa militares na província de Cabo Delgado catapultou a dinâmica do extremismo violento na região, e defende que a questão de defesa seja centralizada no Estado.
Agora “as empresas internacionais devem se focalizar no negócio e deixar que a questão da defesa fique apenas para o Estado” insistiu Adriano Nuvunga, adiantando ser crucial o controlo do arsenal, privado e estatal, para travar o movimento dos grupos armados que atacam a província de Cabo Delgado desde 2017.
“É preciso haver maior centralização e pensamos que o Ministério da Defesa Nacional é que tem esta responsabilidade de recolher as armas e deixá-las nas mãos daquelas pessoas licenciadas e capacitadas para usar dentro da lei e com respeito aos direitos humanos”, disse.
O ataque recente a Palma, o centro do mega-projecto de gás natural em Moçambique, fragilizou ainda mais a imagem do governo moçambicano, o que forçou a petrolífera Total anunciar a suspensão total das actividades, no seu projeto bilionário de gás natural liquefeito na península de Afungi.