Um total de 113 mil familias de vários distritos da província moçambicana de Manica estão a enfrentar uma fome severa, devido a efeitos combinados da seca e do conflito politico militar que dilacerou a anterior campanha agrícola.
A ausência da chuva em tempo crucial da produção da agricultura de sequeiro – de que depende a maioria da população - deitou por terra os resultados de milhares de familias, que se socorrem de frutas silvestres para se alimentarem.
Outros milhares deixaram campos de cultivos abandonados fugindo do conflito político-militar, que opôs o Governo e o braço militar da Renamo.
A maioria das pessoas nas regiões mais afectadas consegue ter uma refeição por dia, por vezes apenas de papas de farinha de milho.
“A pouca farinha que conseguimos só da para uma refeição por dia, como forma de enganar o estômago”, disse Felisberta Viola, moradora de Macadera, distrito de Vanduzi, região com grande potencial agricola, mas largamente atingida pela seca e pelo conflito.
“A seca foi muito forte, nalgumas zonas houve pouco produção, mas noutras não se aproveitou nada mesmo e contam-se os ossos das crianças de magras que estão, devido à fome” revelou Miquelina Zaida, moradora do interior de Messica, uma zona que geralmente não é atingida por seca, mas desta vez muito afectada.
Mudança de mentalidades
O Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) de Manica está a equacionar ajudar as comunidades a sairem da situação de fome ciclica, incentivando-as a investirem em culturas tolerantes à seca.
Teixeira Almeida, delegado do INGC, em Manica, afiança que as comunidades precisam ser dotadas de conhecimentos para contornar fenómenos naturais, secas e inundações, recorrentes no país.
“A acção deverá contar com o apoio de extensionistas, que trabalharão em oito comunidades ao nível da província de Manica”, anunciou Teixeira Almeida sobre a iniciativa, que deverá igualmente educar as comunidades a saberem conservar os produtos das últimas campanhas agrárias.
Os distritos de Guro, Tambara, Macossa, Machaze e Mossurize são os que têm sido ciclicamente afectados por fenómenos extremos, deixando a população carente de bens alimentares.
Contudo, na última campanha a seca chegou a antingir zonas consideradas celeiros da provincia.