WASHINGTON D.C., 25 DE OUTUBRO DE 2013 —
Ouça a matéria:
Descobrir as suas raízes culturais e quebrar estereótipos. Estes foram os motivos que levaram Eliza Capai a percorrer o continente africano durante 7 meses e a contar a história de mulheres comuns, e ao mesmo tempo extraordinárias, como ela. Da viagem surgiu o filme “Tão Longe É Aqui”, em que a protagonista envia uma carta ao futuro, falando à sua filha sobre essa jornada através de cinco países e culturas distintas.
Conversando com a Voz da América, Eliza afirma que há no Brasil uma generalização e um juízo preconcebido a respeito do que é a mulher africana, o que a fez escolher países tão diferentes.
A viagem começou no Marrocos pela proximidade com a Europa. Na chamada “África Branca”, o choque cultural foi imediato. A religião muçulmana influencia em grande parte os hábitos e a cultura do país. Como conta em seu blog, a ausência de mulheres em bares chamou a atenção de Eliza. Outro aspecto peculiar das mulheres marroquinas foi o uso ao mesmo tempo de véus cobrindo os cabelos e o corpo e sapatos de salto alto. Ela conta que teve dificuldade em compreender aspectos da cultura islâmica, como a poligamia:
A seguir, Cabo Verde. As origens do arquipélago intrigaram Eliza:
Em Cabo Verde, ela sentiu-se em casa. As semelhanças entre as culturas caboverdeana e brasileira são várias.
Porém, Capai percebeu que não são apenas características positivas que Cabo Verde compartilha com o Brasil. Ela diz que essas peculiaridades, que ela chamou de “muito tristes”, têm origem na influência europeia sobre as duas nações.
Após Cabo Verde, Eliza Capai rumou para o Pays Dogon, no Mali, uma das regiões mais pobres do mundo. Novamente, Capai teve dificuldade em compreender sem julgar uma cultura tão diferente da dela, em particular a opressão feminina. A prática da mutilação feminina, em especial, trouxe problemas para Eliza.
Porém, ela afirma que mesmo em práticas de difícil compreensão, como a poligamia, há pontos positivos.
A Etiópia foi o quarto destino de Eliza. O fato do país não ter sido colonizado pela Europa foi a razão da viagem. Contudo, essa mesma falta de influência europeia fez com que a distância entre a sua cultura e a etíope fosse tão larga que Capai não conseguiu expressá-la em palavras.
Ao invés disso, a Etiópia entra como um sonho, uma fantasia, no filme. As cenas, de mulheres usando pulseiras de relógio como colares e botões de camisas como brincos, e de rituais onde homens e mulheres, por vontade própria, levam chibatadas até sangrar, parecem realmente fora da realidade, ao menos para uma visão tão acostumada com a cultura ocidental.
O último país a ser visitado foi a África do Sul. Em 2010, o ano da viagem, a Copa de Mundo de futebol aconteceria nesse país. Aproveitando o fato, a jornalista lançou a ideia, que mais tarde geraria o filme, de mostrar a diversidade africana para um canal de televisão brasileiro, que gostou e custeou a viagem. Mas o evento não foi o único motivo da escolha do país. Faltava mostrar a parte da África de maior influência europeia.
Essa influência, afirma Capai, levaria ao Apartheid, uma das maiores perversões da humanidade.
Ao término do filme, com a experiência de tantas culturas distintas, e muitas vezes incompreensíveis, Eliza Capai faz uma reflexão, suscitada em conversa com a socióloga maliana Awa Meité. Há problemas em todas as sociedades. Ao mesmo tempo em que há maior liberdade e autonomia para as mulheres em culturas ocidentais, a beligerância com o sexo masculino e a desintegração do núcleo familiar são mais acentuados, o que não ocorre em muitas culturas africanas.
Ficha técnica da música usada na matéria:
Título: Mama
Cantora: Omagugu Makhathini
Composição, arranjo e letra: Nduduzo Makhathini
Editora: Gundu Entertainment
Descobrir as suas raízes culturais e quebrar estereótipos. Estes foram os motivos que levaram Eliza Capai a percorrer o continente africano durante 7 meses e a contar a história de mulheres comuns, e ao mesmo tempo extraordinárias, como ela. Da viagem surgiu o filme “Tão Longe É Aqui”, em que a protagonista envia uma carta ao futuro, falando à sua filha sobre essa jornada através de cinco países e culturas distintas.
Conversando com a Voz da América, Eliza afirma que há no Brasil uma generalização e um juízo preconcebido a respeito do que é a mulher africana, o que a fez escolher países tão diferentes.
A viagem começou no Marrocos pela proximidade com a Europa. Na chamada “África Branca”, o choque cultural foi imediato. A religião muçulmana influencia em grande parte os hábitos e a cultura do país. Como conta em seu blog, a ausência de mulheres em bares chamou a atenção de Eliza. Outro aspecto peculiar das mulheres marroquinas foi o uso ao mesmo tempo de véus cobrindo os cabelos e o corpo e sapatos de salto alto. Ela conta que teve dificuldade em compreender aspectos da cultura islâmica, como a poligamia:
A seguir, Cabo Verde. As origens do arquipélago intrigaram Eliza:
Em Cabo Verde, ela sentiu-se em casa. As semelhanças entre as culturas caboverdeana e brasileira são várias.
Porém, Capai percebeu que não são apenas características positivas que Cabo Verde compartilha com o Brasil. Ela diz que essas peculiaridades, que ela chamou de “muito tristes”, têm origem na influência europeia sobre as duas nações.
Após Cabo Verde, Eliza Capai rumou para o Pays Dogon, no Mali, uma das regiões mais pobres do mundo. Novamente, Capai teve dificuldade em compreender sem julgar uma cultura tão diferente da dela, em particular a opressão feminina. A prática da mutilação feminina, em especial, trouxe problemas para Eliza.
Porém, ela afirma que mesmo em práticas de difícil compreensão, como a poligamia, há pontos positivos.
A Etiópia foi o quarto destino de Eliza. O fato do país não ter sido colonizado pela Europa foi a razão da viagem. Contudo, essa mesma falta de influência europeia fez com que a distância entre a sua cultura e a etíope fosse tão larga que Capai não conseguiu expressá-la em palavras.
Ao invés disso, a Etiópia entra como um sonho, uma fantasia, no filme. As cenas, de mulheres usando pulseiras de relógio como colares e botões de camisas como brincos, e de rituais onde homens e mulheres, por vontade própria, levam chibatadas até sangrar, parecem realmente fora da realidade, ao menos para uma visão tão acostumada com a cultura ocidental.
O último país a ser visitado foi a África do Sul. Em 2010, o ano da viagem, a Copa de Mundo de futebol aconteceria nesse país. Aproveitando o fato, a jornalista lançou a ideia, que mais tarde geraria o filme, de mostrar a diversidade africana para um canal de televisão brasileiro, que gostou e custeou a viagem. Mas o evento não foi o único motivo da escolha do país. Faltava mostrar a parte da África de maior influência europeia.
Essa influência, afirma Capai, levaria ao Apartheid, uma das maiores perversões da humanidade.
Ao término do filme, com a experiência de tantas culturas distintas, e muitas vezes incompreensíveis, Eliza Capai faz uma reflexão, suscitada em conversa com a socióloga maliana Awa Meité. Há problemas em todas as sociedades. Ao mesmo tempo em que há maior liberdade e autonomia para as mulheres em culturas ocidentais, a beligerância com o sexo masculino e a desintegração do núcleo familiar são mais acentuados, o que não ocorre em muitas culturas africanas.
Ficha técnica da música usada na matéria:
Título: Mama
Cantora: Omagugu Makhathini
Composição, arranjo e letra: Nduduzo Makhathini
Editora: Gundu Entertainment