O Presidente brasileiro voltou ao Brasil no final da noite deste domingo, 16, proveniente da China com bons acordos e investimentos, mas também com algumas dores de cabeças diplomáticas.
A viagem também serviu para fortalecer o banco dos chamados BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que está a atrair novos países membros, entre eles alguns africanos.
Lula da Silva regressou com 15 acordos comerciais assinados e o Governo brasileiro estima que no total são cerca de 50 mil milhões de reais em investimentos, cerca de 10 mil milhões de dólares.
Os destaques vão para as parcerias público-privadas, a fabricação de satélites e carros elétricos no Brasil e o aumento das exportações agrícolas.
Entretanto, é na parte diplomática que a conversa entre Lula e Xi Jimping gerou tensão em todo o mundo.
O primeiro ponto foi o anúncio de que os dois países passarão a realizar transações comerciais com as moedas locais, real e yuan, deixando de lado o dólar.
Isso gerou críticas da imprensa e de representantes do Governo americano aqui no Brasil, segundo fontes da Voz da América.
Lula foi ao microfone para rebater a pressão e dizer que ninguém proibiria o Brasil de negociar com a China.
“Nossos amigos americanos estão preocupados com qualquer coisa nova sendo criada em termos de bancos ou moedas porque eles acham que queremos matar o dólar. Um país do tamanho da China e do Brasil não precisa depender do dólar. Ninguém vai proibir o Brasil de melhorar sua relação com a China”, disse.
Outro ponto que gerou polémica foi a afirmação do Presidente de que Estados Unidos e União Europeia participam activamente do conflito entre Ucrânia e Rússia e deixando a paz em segundo plano.
“Estou convencido de que eles estão participando activamente. Tive uma reunião com Olaf Scholz, chanceler da Alemanha, e ele me pediu para vender mísseis para entrega na Ucrânia. E eu disse que não venderia porque não queremos entrar no conflito. Nós queremos paz", afirmou Lula da Silva.
Não há reacções públicas ainda dos Estados Unidos.
Para analistas políticos como o professor de relações internacionais Alexandre Uehara, as afirmações de Lula foram imprecisas e colocaram mais tensão na relação entre Estados Unidos e China.
“Houve quedas no dólar e conversas sobre guerra. Não seria necessário neste momento, até porque Lula visitou recentemente os Estados Unidos e não adoptou o mesmo tom. Isso pode gerar tensões desnecessárias e prejudicar o Brasil nos acordos com os americanos”, sustentou Uehara.
Em Pequim, Lula participou na posse da ex-Presidente Dilma Rousseff no banco dos BRICS.
Novos tempos para os BRICS
Dezesseis anos atrás, quando o grupo foi formado, eram os países que tinham a maior capacidade de desenvolvimento.
Enquanto a China continuou crescendo, Brasil, Índia, Rússia e China se estagnaram.
Hoje se posicionam mais como uma alternativa ao G7, grupo de países mais ricos do planeta.
Os BRICS vêm mudando de postura e aceitando novos membros.
Na última década, fundou um banco de desenvolvimento com mais de 50 mil milhões de dólares disponíveis para investimentos e uma lista de países espera para ser aprovada.
Investimentos em África
Em África, Nigéria, Egipto e Argelia já assinaram intenções.
Em entrevista à imprensa, Dilma Roussef disse que a prioridade da sua gestão será investir em países em desenvolvimento, principalmente na África e na América do Sul.
"É muito importante que o banco dos Brics seja capaz, de facto, de ser um instrumento dos países de desenvolvimento e que seja em áreas, entre elas a primeira: conter o avanço do clima”, afirmou.
Especialistas veem uma mudança na proposta dos BRICS, que agora se posicionam como agentes de desenvolvimento no globo sul.
“A expansão dos BRICS para países em desenvolvimento é positiva, o problema é que quando se fala nessa ampliação fica uma questão: essa ampliação é uma cooperação internacional ou pode ser a influência chinesa para outros países”, questiona aquele analista político.
Depois da China, o Presidente brasileiro esteve também nos Emirados Árabes Unidos.
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