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Luís Fonseca: Luta pela independência das então colónias portuguesas foi "um acelerador" do 25 de abril


Luís Fonseca, combatente pela independência e antigo diplomata cabo-verdiano
Luís Fonseca, combatente pela independência e antigo diplomata cabo-verdiano

Antigo prisioneiro politico e diplomata cabo-verdiano analisa o 25 de abril, uma revolução em que os portugueses foram os protagonistas, e a luta pela independência das antigas colonias

A Revolução dos Cravos de 25 de abril de 1974 é uma obra dos portugueses, mas a luta pela independência das então colónias, em particular a luta na Guiné, foi um acelerador desse evento.

A leitura é do antigo prisioneiro político e diplomata cabo-verdiano Luís Fonseca, quem enfatiza o facto de "os próprios portugueses reconhecerem esse contributo", ao ponto do líder do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e da luta, Amílcar Cabral, estar a ser homenageado por Portugal.

Luís Fonseca: A luta nas então colónias portuguesas foi "um acelerador" do 25 de abril
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Em conversa com a Voz da América, Fonseca, que depois de várias detenções e solturas, viria a ser preso na Cadeia Civil da Praia e depois no Campo de Concentração do Tarrafal, foi libertado cerca de um ano e três meses antes do 25 de abril de 1974, lembra que, nesse dia, como sempre, "levantei cedo para ouvir a rádio" e então escutou "houve um golpe militar em Portugal".

"Lembro-me de ter acordado a minha mulher e dizer-lhe o seguinte `Fernanda, no dia 30 já não tenho de ir assinar o livro de ponto", na PIDE, a polícia secreta portuguesa, um tipo de Termo de Identidade e Residência, que fazia mensalmente desde que fora libertado.

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O então combatente pela independência do país, que sofrera na pele as agruras da prisão, lembra ter sentido "uma alegria imensa e, apesar das dúvidas, que naturalmente continuavam a povoar a minha cabeça e a relativa surpresa desse acontecimento, não deixaria de ser uma das pessoas mais felizes" nesse dia.

No dia em que se assinala o 50o. aniversário do golpe em Portugal, o antigo embaixador e também ex-secretário geral da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) diz ser de justiça que se reconheçam "os protagonistas, aqueles que foram os autores, quem efetivamente deu o golpe final ao colonial fascismo em Portugal, as Forças Armadas".

O peso da luta pela independência das então colónias

"Outro aspeto é que não se tratou apenas de um golpe militar, mas de uma verdadeira revolução, que não se passou apenas nos quartéis com uma eventual tomada de poder por uma fação militar ou perda de controlo por parte das autoridades e a entrada de um novo regime... o povo, com a atuação muito simbólica de colocar cravos nos canos das espingardas, abraçou o 25 de abril e abraçou como sendo um dia seu, uma revolução sua, uma conquista do povo português", aponta.

Luís Fonseca não tem dúvidas, no entanto, que não se pode dissociar o 25 de abril da luta nas então colónias portuguesas pela independência, que "foram um verdadeiro acelerador do processo revolucionário em Portugal".

Não é por acaso que a revolução foi encabeçada por militares, com muitos dos membros do Movimento das Forças Armadas, que lideraram o golpe, a passar pela Guiné, como o próprio António Spínola, que foi governador da Guiné.

"Resultou sobretudo da constatação da impossiblidade de uma vitória militar, particularmente na Guiné, e daí que se tenha de realçar o papel importante da luta do PAIGC para se chegar a esse dia", destaca Fonseca, para quem o papel dos cabo-veridanos foi também fundamental.

"De um lado, os cabo-verdianos eram apresentados como o grande produto do luso-troplicalismo, a encarnar o grande sonho daquele Portugal pluricontinental e que seria o resultado dessa chamada missão civilizadora de Portugal nos trópicos, para o consumo do estrangeiro e para, em certa maneira, nos enganar a nós cabo-verdianos, mas na Guiné-Bissau éramos os piores diabos que podiam existir porque éramos apontados como responsáveis por todos os problemas que o exército português enfrantava na Guiné e não se pode dissociar os cabo-verdianos do 25 de abril, e isto é um motivo de orgulho", acentua Luís Fonseca, quem destaca o facto de Portugal reconhecer e homenagear Amílcar Cabral, "os próprios protagonistas, os portugueses".

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"Voltaria a fazer tudo outra vez", conclui aquele antigo lutador pela independência de Cabo Verde e das demais colónias portuguesas.

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