O Presidente angolano condenou nesta segunda-feira, 20, a tentativa de golpe de Estado ocorrida neste domingo na República Democrática do Congo (RDC) e reafirmou a sua oposição à tomada do poder por via não constitucional em África.
Analistas políticos, em Luanda, alertam para repercussões em Angola.
João Lourenço falava por ocasião da realização, em Luanda, de uma cimeira extraordinária virtual da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC) dedicada aos efeitos das alterações climáticas, em alguns países da região, causadas pelo efeito El Nino .
“Defendemos mais uma vez a tolerância zero para com as mudanças inconstitucionais do poder em África que atentam contra os princípios da União Africana e da Carta das Nações Unidas”, afirmou Lourenço.
Analistas políticos ouvidos pela Voz da América alertam para a possibilidade de a caça ao homem em curso naquele país poder ter repercussões em Angola, país que partilha uma extensa fronteira com a RDC.
O especialista em relações internacionais Sebastião Vinte e Cinco admite que a tentativa de golpe pode provocar a fuga, para Angola, de cidadãos vítimas de retaliação, abrindo caminho à extradição à margem das leis internacionais de eventuais implicados.
Vinte e Cinco reconhece que os acontecimentos de domingo podem ter colocado o Governo em estado de alerta, podendo surgir excessos nas medidas de segurança.
O analista político e social Ilídio Manuel também admite uma nova vaga de refugiados para Angola na sequência do frustrado golpe de Estado na RDC e não afasta a eventualidade de o Governo de Angola ter entrado em estado de alerta, em meio ao atual clima de contestação social.
O exército da RDC afirmou que “frustrou um golpe” na manhã de domingo, 19, e prendeu os perpetradores, incluindo vários estrangeiros, após um tiroteio entre homens armados em uniforme militar e os guardas de um político importante que deixou três pessoas mortas no capital, Kinshasa.
A tentativa de golpe de Estado foi “cortada pela raiz pelas forças de defesa e segurança congolesas (e) a situação está sob controlo”, disse o porta-voz do exército congolês, brigadeiro-general Sylvain Ekenge, numa conferência de imprensa.
Ele não deu mais detalhes.
Foram reportados confrontos entre homens em uniforme militar e guardas de um político local na sua casa, na Avenida Tshatshi, a cerca de dois quilómetros do palácio presidencial e onde também estão localizadas algumas embaixadas.
Isto ocorreu em meio a uma crise que assolava o partido no poder do presidente Felix Tshisekedi devido a uma eleição para a liderança do Parlamento, que deveria ter sido realizada no sábado, mas foi adiada.
Na sexta-feira, 17, o Presidente Felix Tshisekedi reuniu-se com parlamentares e líderes da coligação governante da União Sagrada da Nação, numa tentativa de resolver a crise no seio do seu partido, que domina a Assembleia Nacional.
Ele disse que não “hesitaria em dissolver a Assembleia Nacional e enviar todos para novas eleições se estas más práticas persistirem”.
Tshisekedi foi reeleito em dezembro, numa votação caótica e no meio de apelos à revogação da oposição por causa do que consideraram falta de transparência, seguindo tendências passadas de eleições disputadas naquele país da África Central.
A Embaixada dos Estados Unidos na RDC emitiu um alerta de segurança, pedindo cautela após “relatos de tiros”.
Angola aprovou, em 2023, o envio de 500 efetivos das Forças Armadas Angolanas (FAA) de apoio às operações de manutenção da paz e asseguramento das áreas de acantonamento do M23, no Leste da República Democrática do Congo (RDC).
Enquanto isso, o tenente-general angolano Nassone João foi indicado para exercer as funções de Chefe do Mecanismo de Verificação Ad-Hoc, criado para a pacificação da região Leste da República Democrática do Congo (RDC).
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