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Lavadores de carro "obrigados" a limpar celas da polícia em Benguela


Jardim do Largo de África, onde os lavadores são recrutados
Jardim do Largo de África, onde os lavadores são recrutados

Denunciam que são levados pela polícia às vezes de madrugada

Jovens e adolescentes que ganham a vida a lavar carros nas ruas de Benguela denunciam que são forçados pela Polícia a limpar lixeiras nas celas do Serviço de Investigação Criminal (SIC), onde estiveram gestores públicos acusados de peculato, agora em prisão preventiva na cadeia do Cavaco, arredores da cidade.

Limpadores de carros obirgados a limpar cadeias - 2:09
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Os maus-tratos levam já vários meses, mas as detenções de determinadas figuras, expostas a ‘’condições desumanas’’, como a falta de água, luz e assistência médica, dão actualidade ao calvário dos rapazes.

Advogados de gestores detidos por suspeitas de desvios de bens do Estado, que não quiseram ser identificados, apresentaram reclamações das más condições das celas denunciadas pelos seus constituintes, à semelhança do que fizeram alguns familiares.

Jovens que lavam carros nas ruas, que dizem ter sido forçados por agentes da polícia duas a três vezes por semana a limpar as celas, conhecem os horrores verificados pelos arguidos.

‘’Vem o carro da Polícia, sem maneira, levam e nos mandam fazer limpeza, lavar as viaturas. Se reclamarmos, vamos para a cadeia. Encontramos fezes, urina, latas, muitas coisas’’, diz o primeiro jovem a denunciar, enquanto outro sublinham que ‘’eles levam tipo estão a levar animais, por baixo das cadeiras e depois capinámos, eles não conseguem limpar e por isso tratam o pessoal como escravo’’.

Numa conversa descontraída, quem lá esteve como detido, entre sábado e terça-feira, fala da escuridão, da falta de água e do desmaio de um companheiro de cela por falta de assistência médica, o que obrigou a uma intervenção do Instituto de Emergência Médica.

‘’Depois de ter desmaiado, porque antes disso, eles (polícias) não quiseram saber, bateram os outros miúdos que gritavam pelo companheiro que estava a passar mal’’, conta, sob anonimato, o jovem contactado pela VOA.

O activista Alberto César, membro da Omunga, organização com estatuto de observador africano dos direitos humanos, reprova situações como estas, que ocorrem também no Lobito, e espera que as chefias da Polícia coloquem um ponto final neste tipo de prática.

‘’Há miúdos que são levados à meia-noite, acordam e começam a desentupir fossas nas esquadras. É tudo injustiça, todos nós merecemos respeito, e eles mais ainda, tendo em conta a sua situação. A polícia não diz nada até agora’’, relata o activista.

Apesar das várias tentativas, a VOA não conseguiu obter uma reacção do porta-voz da Delegação do Interior em Benguela, Pinto Caimbambo.

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