Relatos de tortura, atropelamento, perda do negócio são frequentemente feitos pelos vendedores ambulantes em Luanda.
Os protagonistas destas acções, veementemente condenadas pela sociedade civil, são polícias e fiscais que na tentativa de manter a ordem pública nas avenidas da capital angolana excedem na sua actuação, investindo fortemente contra quem insiste em buscar na venda ambulante a única forma de sustentar a família.
Para reaverem os seus pertences, muitas zungueiras são obrigadas a pagar valores que vão desde os 5 aos 10 mil kwanzas.
É assim o dia a dia de uma zungueira…Entre corridas, atropelamentos e a mão pesada da polícia os vendedores ambulantes conseguem sustentar as suas famílias com o pouco que ganham. Elas sabem do risco que correm a cada dia que põe os pés na estrada em busca do sustento. Não há espaços nos mercados formais, é por esta razão que muitos optam pela venda nas principais avenidas da cidade que já foi considerada a mais cara do mundo;
Maria Conceição é zungueira há 14 anos e tem os filhos a estudarem na Universidade Católica de Angola, uma das mais prestigiadas em África e em Angola, em particular. É com os valores que ganha na venda de artigos diversos nas ruas que consegue pagar as propinas dos filhos. Mas, ela reclama: A mensalidade da universidade subiu muito este ano.
Foi para tentar encontrar as razões que levam cidadãos diversos a deslocarem do interior de Angola para a capital do país e, na ânsia de melhorar as suas condições de vida dedicam-se a venda ambulante, que Kanguimbo Ananaz, Psicóloga e escritora, realizou uma pesquisa científica. O livro "Fenómeno vendedores nas ruas de Luanda" foi publicado a 12 de Dezembro de 2016;
"O ser humano, segundo a Abraham Maslow, dentro da pirâmide das necessidades precisa de alimentação, precisa de trabalhar, precisa de segurança…"
Para a escritora a zunga surge como resposta a necessidade de satisfação das carências primárias;
Sobre a brutalidade da polícia Kanguimbo Ananaz refere que a proibição é legal, mas é preciso que os fiscais e polícias estejam preparados para dar resposta a esta situação sem que seja necessário o recurso a força e à violência;
Para a piscóloga, muitas vezes falta aos agentes da ordem um equilíbrio moral e mental, que passa pela formação dos efectivos da corporação que actuam contra a venda ambulante. "O caminho é o diálogo. Mas, do ponto de vista pedagógico é preciso preparar as pessoas. Esta preparação passa pela formação, procurar meios de poder dialogar", disse.
A escritora defende na sua obra que o fenómeno da venda ambulante precisa ser bem analisado, sendo que para além dos acidentes que em alguns casos resultam em mortes para os zungueiros, há também o risco de haver um atentado à saúde pública, já que até alimentos perecíveis são comercializados e em péssimas condições de conservação.
"Nós temos que fazer uma reflexão, o jovem corre perigo. Há situações de atropelamento", salientou.
Kanguimbo Ananaz não acredita que se consiga num curto espaço de tempo pôr fim a venda ambulante, mas salienta que a situação pode ser minimizada.
Com três capítulos, embora o livro incida sobre a prática de comércio livre, praticado por jovens, tal actividade mercantil envolve quase todos os estratos sociais e faixas etárias, bem como quaisquer zonas da cidade, seja urbana, periférica, seja rural.
Kanguimbo Ananaz é pseudónimo literário de Maria Manuela Cristina Ananaz. Mestre em Literatura e Português, pelo Instituto Superior de Ciências da Educação (ISCED), nasceu aos 3 Fevereiro de 1959, no Namibe, é autora de 15 obras literárias, entre as quais “Pétalas rasgadas”, “As férias de Yahula”, “Seios do deserto”, “Avô Sabalo”, “Soba Kangeiya”, a “Palavra” e “Regresso de Kambongue”.