O presidente do Movimento Protectorado Lunda Tchokwe, José Mateus Zecamutchima, foi indiciado pela justiça angolana depois de pessoas ouvidas no processo-crime aberto a seguir aos confrontos mortais do passado sábado, 30, terem dito que ele mobilizou cidadãos para “desestabilizar a região leste do país”.
A revelação foi feita nesta terça-feira, 2, pelo ministro do Interior, Eugénio Laborinho, em Luanda, na qual também felicitou os agentes da Polícia Nacional (PN) pela sua actuação nos confrontos em Cafunfo, na província da Lunda Norte, que deixaram entre seis mortos, segundo as autoridades, e 27, de acordo com fontes independentes.
A Amnistia Internacional confirmou a existência de 10 mortes e muitos desaparecidos.
“A justiça vai tratar dele", afirmou Laborinho, quem acrescentou que Zecamutchima “vai justificar por que razão insiste em criar situações de embaraço na região leste, nomeadamente na província da Lunda Norte, quais são os objectivos, quem está por detrás disso e o que é que lhe vai na alma, para se justificar".
"Temos provas materiais, e a outra são os intentos, os objetivos desta rebelião. Os processos estão aí, vocês vão ter a oportunidade de ver. Todos os detidos disseram que estão a trabalhar, a apoiar os esforços do nosso presidente Zecamutchima, temos relatos, casos concretos, não brinquemos com coisas sérias, esse país já sofreu muito", acrescentou Laborinho que disse que aquele activista “está à deriva e de saúde".
Questionado sobre o paradeiro de Zecamutchima, o governante garantiu que “não vamos andar atrás da agulha no palheiro, mas se for necessário vamos lá também” e afirmou ser “bom que ele se apresente voluntariamente, que se justifique às autoridades”, embora não exista qualquer mandado de captura.
O Movimento Protectorado Lunda Tchokwe luta pela autonomia das Lundas, região rica em minérios, mas que é uma das mais pobres do país, com elevados níveis de miséria, no entanto o ministro foi peremptório ao afirmar que "Angola é una-indivisível".
Eugénio Laborinho reiterou a tese da PN de que o acto foi uma "rebelião armada" e que os manifestantes atacaram a esquadra da polícia.
"Graças à prontidão e vigilância das nossas forças foram neutralizados, porque eles vinham armados. Com armas de guerra, com meios contundentes em várias direções. O que constatamos foi um ato de rebeldia e acompanhado de gente estrangeira, em vários grupos", acrescentou.
Protestos e repressão
Em declarações à VOA, na semana passada, antes da relização marcha convocada para pedir um diálogo com o Governo, Zecamutchima denunciou a prisão de 13 activistas e que Cafunfo e outras localidades na província estavam “em estado de sítio”, devido à presença musculada das forças de segurança.
No sábado, 30, e quando cerca de 300 pessoas pretendiam realizar a marcha, as forças de segurança intervieram e dos confrontos resultaram mortes, cujos números não são conclusivos.
Enquanto a PN fala em seis mortes, a Amnistia Internacional disse ter a certeza que pelo menos 10 pessoas morreram e que muitas estão desparecidas, no que foi corroborado pela organização angolana de defesa dos direitos humanos OMUNGA, e fontes independentes apontam para, pelo menos, 27 vítimas mortais.
Por outro lado, familiares de vítimas disseram à VOA que mais de 20 corpos desapareceram da morgue no Dundo e vários activistas garantem que muitos corpos foram jogados no rio Cuango para eliminar rastos.