Em Moçambique, inicia-se esta quinta-feira, 27, o julgamento do antigo ministro dos Transportes e Comunicações, Paulo Zucula, do ex-presidente do Conselho de Administração das Linhas Aéreas de Moçambique-LAM, José Viegas e do antigo gestor da empresa norte-americana General Electrics no país, Mateus Zimba.
Os três dirigentes são acusados de estar envolvidos no alegado esquema de corrupção na compra de aviões Embraer.
O Gabinete Central de Combate à Corrupção de Moçambique acusa os três arguidos de concertarem, entre os anos 2008 e 2009, com a fabricante brasileira Embraer, um esquema de corrupção que consistiu na sobrefacturação do preço de duas aeronaves, para beneficiarem de
pagamento de luvas.
O preço de cada avião passou de 32 milhões para 32 milhões e 690 mil dólares, para não comprometer os lucros da Embraer e garantir o dinheiro da comissão.
Entretanto, em alguns círculos de opinião, este julgamento é visto como uma indicação de que o Governo e os tribunais já sentem a pressão interna e externa para que a corrupção seja combatida com muita determinação, por causa das consequências extremamente negativas que este tipo de práticas está a provocar na sociedade moçambicana.
"A justiça está a fazer o seu papel. É verdade que do ponto de vista das expectativas, as pessoas andam muito desalentadas relativamente ao funcionamento do sistema de justiça", admitiu o analista Fernando Mbanze.
Mbanze disse que relativamente ao caso Embraer, "o processo iniciou-se há muito tempo, e tendo sido marcado o julgamento, significa que há matéria para levar os três indivíduos à barra da justiça, que, na minha opinião, está a fazer o seu papel".
Contudo, António Muchanga considera que este julgamento não passa de uma manobra de diversão, interrogando-se porque é que a antiga presidente do Conselho de Administração do Fundo de Desenvolvimento Agrário, Setina Titosse, condenada a 18 anos de prisão maior, por envolvimento no esquema de desvio de 170 milhões de meticais, não está na cadeia.
Sem especificar, Muchanga diz que ainda existe uma zona de impunidade que preocupa a sociedade moçambicana.
Alexandre Chiure por seu lado diz ser necessário "julgar e condenar os corruptos", mas o combate à corrupção não se deve resumir apenas a isso,"é preciso investir muito na prevenção e na educação da sociedade para que as pessoas mudem de atitude em relação a esta prática".
"Eu sei que não é tarefa fácil, porque a corrupção em Moçambique está institucionalizada, infelizmente é o modus vivendi para muitas pessoas", destacou aquele analista.