O Presidente angolano reiterou no discurso de encerramento do congresso extradorinário do MPLA os principais pontos da sua administração, de olho na economia, na luta contra os que receberam dinheiro do Estado e usaram em projectos privados e na diversificação e maior privatização da economia do país.
Um dia depois dos trabalhos da reunião magna dos camaradas que alargou o universo do Comité Central (CC) de 363 para 497 membros, com a entrada de dirigentes apontados pela actual direcção do MPLA, João Lourenço abordou neste domingo, 16, a “substituição” e desafiou os angolanos a exigirem os seus direitos.
Na Arena Kilamba, em Luanda, frente a dirigentes e militantes do partido, em que ele "assume" definitivamente as rédeas do MPLA, Lourenço recusou que a entrada de membros no CC, aprovada, por 92,32% dos congressistas, signifique o afastamento da “velha guarda” e lembrou que, como se diz no futebol, ser nomal um técnico fazer duas ou três substituições num jogo, mas admitiu que “poderá haver substituições quando tiverem de acontecer e no tamanho que tiverem de acontecer”.
O Presidente reconheceu que as mudanças não estão no ritmo desejado e garantiu que há que agilizar o processo, principalmente no capítulo da privatização das empresas, “libertando o Estado” desse peso e evitando que os empresários tenham de deslocar-se a Luanda para resolver problemas e ter acesso ao crédito.
Descentralização
"Os que estão nas províncias longínquas não têm necessidade de vir a Luanda, para beneficiar dessa facilidade de crédito. Esse serviço deve ser prestado lá", defendeu Lourenço, que enfatizou na descentralização do poder e nas eleições para as câmaras municipais em 2020.
O Estado deve começar a privatizar rapidamente as empresas,tirando “pressão” ao emprego na administração pública porque “não pode ser o empregador número um”.
João Lourenço não deixou de voltar a criticar aqueles que se beneficiaram do dinheiro do Estado e fizeram disparar a dívida pública do país.
Recuperar dinheiro do Estado
Ele lembrou que cada dólar usado para honrar a dívida paga também o investimento “dito privado” na banca, na telefonia móvel, nos media, nos diamantes, na joalharia, nas grandes superfícies comerciais, na indústria de materiais de construção e noutros negócios", que uns poucos fizeram com dinheiros públicos.
“Não é aceitável e não podemos nos conformar com o facto de se ter chegado ao ponto de colocar empresas públicas, com destaque para a Sonangol, a financiar também alguns desses negócios privados, como se de instituições de crédito se tratasse”, revelou Lourenço que lembrou ser uma batalha não ganha.
“Se conseguirmos inverter esta situação, batalha ainda não ganha, então com estes e outros recursos vamos combater melhor a pobreza, retirar cada vez mais cidadãos do limiar da pobreza e edificar uma verdadeira classe média com um nível de vida aceitável”, assegurou o president do MPLA.
Respeito pelo Estado
Ainda neste capítulo, João Lourenço denunciou que “muitas empresas constroem edifícios, vendem à população, geram receitas e não pagam nada de emolumentos ao Estado e não têm nenhum documento que prove que determinada propriedade lhes pertence".
O líder do MPLA reiterou que há que “resgatar os velhos valores” e o respeito pelo Estado.
Ele citou como exemplo de falta de cumprimento da lei, o conhecido caso "Jardim do Lubango", em que alguém quis adulterar o fim público daquele espaço e os cidadãos exerceram o seu direito de cidadania.
"Fizeram barulho e venceram", realçou Lourenço, que citou o caso de Benguela onde as pessoas protestaram contra uma empresa que tomou dinheiro e usou para outros fins.
Além de incentivar a população a exigir os seus direitos, João Lourenço garantiu não ser surdo.
“Nós temos estado a ouvir, não podemos ser surdos, mas temos de sentar e reflectir sobre aquilo que ouvimos, e tomar uma decisão mais acertada possível, porque os que dizem são milhares, mas quem decide é um, e, se a decisão for errada, esses mesmos milhares que o aconselharam serão os primeiros a sacrificá-lo”, advertiu.
Ao passar em revista vários outros aspectos, Lourenço desafiou a imprensa a descobir empreendedores e prometeu continuar a dialogar com igrejas, organizações não governamentais e outras instituições da sociedade civil "para o êxito das acções de resgate de valores morais".