O mundo parou, é um título que se pode ler na imprensa mundial nos últimos dois meses.
As análises feitas sobre os mais diversos setores da atividade humana nas diferentes regiões do mundo apontam para um regresso a um tempo que não é o mesmo, desde os mais variados pontos de vista.
No campo económico, observadores dizem que a crise de 2001, depois dos ataques às Torres Gémeas de Nova Iorque, e a crise mundial de 2007-2008 não fazem nem cócegas ao "buraco" em que se encontra a economia mundial.
Há quem aponte para a grande depressão de 1930.
Entretanto, a história tem mostrado que das grandes crises têm emergido sucessos e, com a atual provocada pela pandemia da Covid-19, muitos convergem que a África pode estar numa pole position privilegiada para o seu renascimento económico. Apesar da forte crise que se abate também sobre os países africanos.
O antigo primeiro-ministro de Cabo Verde, José Maria Neves, vê condições para o que considera o “rearranque” de África, embora reconheça que “anúncios do tipo tenham sido feitos noutras oportunidades”.
“Há um novo tempo, as instituições, os governos, os cidadãos, a sociedade civil estão todos muito mais conscientes da necessidade de uma reforma profunda, com novos programas de crescimento económico, que tem de ser inclusivo, com coesão social e sustentabilidade ambiental”, afirma Neves
Apesar desse otimismo, aquele professor universitário e investigador também está consciente de que o continente regista um menor ritmo de crescimento económico que há algum tempo atrás, que a África tem o mais baixo nível de rendimento per capita e o mais baixo nível de desenvolvimento médio, mas “tem enormes potencialidades, recursos naturais, matérias primas e grandes capacidades humanas”.
Tudo isso, no entanto, exige um esforço conjunto e concentrado, de forma coordenada, que, segundo José Maria Neves, deve estar sob os auspícios da União Africana.
“Há condições necessárias, a começar por um diagnóstico multi-setorial, diferenciado, um olhar clínico sobre as condições reais do continente, de todos, universidades, instituições de pesquisas, instituições financeiras, sociedade civil, que permite mobilizar competências e capacidades no mundo todo para uma profunda reflexão sobre as condições reais de transformação do continente em direcção a um desenvolvimento sustentável”, aponta o antigo Chefe do Governo cabo-verdiano.
Neste sentido, e para marcar o Dia de África, a Fundação José Maria Neves organizou nesta segunda-feira, 25, na cidade da Praia uma conferência online sob o tema “África no Século 21: A pandemia da Covid-19 e os desafios do desenvolvimento”, cuja palestrante foi a antiga ministra das Finanças de Cabo Verde, Cristina Duarte, que integrou a comissão que preparou o chamado "Relatório Kagame" sobre a reforma da União Africana.
“É uma forma de contribuir para o debate em torno ao futuro do continente”, concluiu José Maria Neves.