O jornalista da Rádio Capital FM, na Guiné-Bissau Adão Ramalho foi alvo de uma tentativa de sequestro, que resultou em agressão enquanto fazia o seu trabalho na cobertura do regresso ao país do presidente do PAIGC e antigo primeiro-ministro, Domingos Simões Pereira, que também disse ter visto a agressão.
Testemunhas dizem que Ramalho foi retirado à força da viatura onde seguia por parte de um grupo de homens armados em frente à sede do PAIGC, aquando da chegada do Simões Pereira.
“O acto não se consumou porque houve a pronta intervenção da população que estava no local e de homens de segurança do líder do PAIGC”, refere uma outra testemunha, que pediu anonimato por medo de represálias.
Fontes diversas indicam que os homens que espancaram Adão Ramalho estão ligados à segurança da Presidência da República “que tinham vindo ameaçar o jornalista nos últimos tempos”, devido ao seu programa matinal “1ª Hora” na Rádio Capital FM.
"Liberdade de imprensa amordaçada", diz LGDH
Num comunicado divulgado horas depois, a Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) "denuncia a existência de um plano tenebroso que visa amordaçar o exercício da liberdade de imprensa na Guiné-Bissau" e "apela maior resistência contra todos os actos que visam aniquilar os alicerces do Estado de Direito na Guiné-Bissau".
Na nota, a LGDH afirma registar "com muita tristeza a agressão brutal perpetrada pelos agentes de segurança contra o jornalista Adão Ramalho da Rádio Capital FM, em pleno exercício das suas funções" e "repudia esta conduta abusiva e arbitrária das forças de segurança".
A organização sublinha repudiar "esta conduta abusiva e arbitrária das forças de segurança e exige a responsabilização criminal e disciplinar dos autores desta atrocidade".
O presidente do PAIGC também condenou a agressão de Ramalho que estava a cobrir a chegada dele à sede o partido.
“Não posso admitir aquilo que vi hoje, fui testemunha ocular da forma desumana como foi agredido o jornalista Adão Ramalho”, afirmou Domingos Simões Pereira.
Ataque a Antonio Aly Silva
O ataque a Ramalho acontece três dias de outro jornalista, António Aly Silva, ter sido raptado, espancado e deixado praticamente desmaiado numa das ruas de Bissau.
Em entrevista à VOA, Aly Silva, que é editor do blog Ditadura de Consenso, acusou o Presidente da República de ser o responsável pelo sequestro e espancamento dele por ser "a única pessoa que o liga a ameaçar".
Na quinta-feira, 11, Úmaro Sissoco Embaló refutou a acusação e disse que “quem for insultado pelo Aly que o leve à polícia, ao Ministério Público, agora ninguém tem o direito de o espancar da forma como foi espancado".
Embaló prometeu que "nenhum cidadão vai ser espancado daqui para a frente”.
Adão Ramalho colaborou durante algum tempo com a VOA a partir de Bissau.