As autoridades de defesa e segurança da Guiné-Bissau ainda não reagiram ao "sequestro e espancamento” na terça-feira, 9, do jornalista e bloguista António Aly Silva.
O mesmo disse que foi “raptado às 14:08h em frente à Empresa de Eletricidade e Águas da Guiné-Bissau por quatro homens armados de AK 47”.
“Aos gritos de “sai do carro, senão disparamos. Vamos matar-te hoje”, foram algumas palavras que António Aly Silva disse ter ouvido dos seus agressores.
No seu blog “Ditadura de Consenso”, o jornalista relatou que “ver o cano de AK’s 47 apontados ao teu peito, deixa qualquer um desnorteado”.
O rapto e espancamento de Aly foi denunciado ainda ontem pela Liga Guineense dos Direitos Humanos, que pediu um posicionamento das autoridades.
Nos círculos de Bissau, o acto é apontado como mais um a outros considerados de atentados à classe jornalística guineense e a liberdade de expressão no país.
O bastonário da Ordem dos Jornalistas considera que o que aconteceu com António Aly Silva visa baixar o nível do jornalismo na Guiné-Bissau:
"Esta agressão é uma prova de tentativa de implementar um jornalismo de bajulação na Guiné-Bissau. E se, por acaso, for para frente, este tipo de jornalismo de bajulação, quer dizer tudo que o trabalho que fizemos até aqui vai água abaixo", reitera António Nhaga.
Para a presidente do Sindicato dos Jornalistas e Técnicos da Comunicação Social está-se perante mais um atentado à liberdade de imprensa na Guiné-Bissau.
"São inadmissíveis actos dos género à luz do dia. Nós não podemos permitir que situações do género continuem a acontecer com qualquer cidadão, ainda mais com um jornalista que está apenas a fazer o seu trabalho", afirma Indira Correia Baldé à VOA.
Em Janeiro deste ano, o Gabinete da ONU para a África Ocidental e Sahel “manifestou a sua preocupação com a violação de direitos humanos na Guiné-Bissau” e sublinhou que “a liberdade de imprensa no país foi igualmente limitada”.
Ouvido pela VOA, o líder cívico Sana Canté, do Movimento de Cidadão Conscientes e Inconformados, reproduziu as palavras do jornalista Aly Silva, de acordo com as quais, já havia sido advertido pelo Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló.
"Foi previamente avisado e depois executada a operação. Quer dizer, Úmaro Sissoco Embaló, enquanto mandante, transformou a Presidência da República numa espécie de sindicato destas operações. Ele manda primeiramente um pré-aviso antes de executar a própria operação", denuncia Canté, que pede o afastamento de Embaló "por via da restauração da ordem constitucional".
"Sendo ele um golpista, portanto ele terá que ser afastado da mesma via que chegou ao poder", conclui aquele activista.
O sequestro e espancamento do jornalista Aly Silva gerou ondas de protesto na Guiné-Bissau e no exterior.
O sindicato dos jornalistas de Cabo Verde AJOC manifestou ontem a sua solidariedade a Silva e disponibilizou para ajudar o profissional, juntamente com outras organizações da classe.