Cabo Verde é apontado em todos os índices internacionais como líder da liberdade de imprensa em África, facto que é uma das bandeiras usadas tanto pelas autoridades como pelos próprios profissionais do sector.
Ontem, pela primeira vez, celebrou-se o Dia Nacional do Jornalista, em homenagem a Luís Loff de Vasconcelos, fundador e dirigente de várias publicações periódicas no país, nascido a 5 de Janeiro de1861.
A menos de três meses do início de mais um ciclo eleitoral, muitos consideram que a liberdade de imprensa é quase total "porque não há absolutismo, mas o sector está muito saudável e fazemos o nosso trabalho livremente", como disse à VOA Daniel Almeida, do jornal A Nação.
Apesar dessa liberdade, há limitações que podem colocar em causa o exercício do jornalista, na óptica de Almeida, vencedor do Prémio Nacional de Jornalismo de 2015.
"Há muitas dificuldades financeiras que afectam tanto as empresas como os próprios jornalistas, havendo colegas que ganham cerca de 20 contos mensais (200 dólares) e têm até seis meses de salários em atraso", aponta Daniel Almeida, alertando que essa situação pode, "sim, limitar a liberdade de imprensa".
Rosana Almeida, jornalista e apresentadora da Televisão de Cabo Verde, tal como o seu colega, considera que, apesar da liberdade que os profissionais gozam, o sistema tem de mudar para que possa dar um salto qualitativo.
"Há muita gente com vontade de fazer mais, mas não há condições que nos permitam dar o saldo que o sector necessita, a nível do contraditório e da investigação", explica Almeida que reclama um novo paradigma para o sector, tanto público como provado.
Cabo Verde tem três estações de televisão, uma pública e duas privadas, três semanários privados, uma rádio pública e várias privadas e muitos canais online, mas o limitado mercado publicitário e consumidor é uma forte condicionante do sector.
Rosana Almeida, vencedora por cinco anos consecutivos do prémio de jornalista de confiança, entre outros, da empresa Afrosondagem, diz haver "uma sentença de morte sobre os privados que enfrentam inúmeras dificuldades para se imporem, enquanto no sector público há um certo comodismo".
Essas limitações influem também a investigação jornalística que, para Daniel Almeida "é um tabu porque não há jornalismo investigativo em Cabo Verde em virtude de as empresas não poderem dar condições e tempo aos profissionais".
O cineasta e fotógrafo César Schofield Cardoso é um crítico do jornalismo cabo-verdiano e aponta deficiências ao sector, que, para ele, está muito ligado e dependente da agenda política.
"Estou decepcionado porque o jornalismo cabo-verdiano não informa, não questiona, mas tenta nos moldar", explica Cardoso que acusa, por exemplo, os jornais de não apresentarem factos, optando por ficar por "rumores".
Neste sentido, aquele observador e consumidor põe em causa a ética dos jornalistas, "não de forma despudorada, mas os jornalistas estão no border line da não-ética".
Rosana Almeida e Daniel Almeida têm opinião contrária e consideram que não se coloca a questão de falta de ética, "como provam os relatórios internacionais que falam por si", na óptica da apresentadora.
A 20 de Março, os cabo-verdianos vão a votos e, depois de 25 anos de cobertura de eleições, os dois jornalistas acreditam que os profissionais e os órgãos de comunicação serão, outra vez, um espelho para os eleitores.
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