O Presidente angolano garantiu que a luta contra a corrupção é para continuar, que não é contra a família de José Eduardo dos Santos e que no país as pessoas podem se manifestar e há liberdade de imprensa.
João Lourenço fez estas afirmações em entrevista à televisão portuguesa, RTP, na segunda-feira, 4, véspera do início da visita do seu homólogo luso a Luanda, e na qual garante que as relações com Lisboa “estão no pico da montanha, lá bem acima".
Ao assumir que o combate à corrupção é uma luta do MPLA, de todos, e que ele está apenas a liderar, Lourenço reconhece, no entanto, que “ninguém pode garantir que daqui para a frente não haverá corruptos”, mas assegura que “poderá haver corruptos, mas não ficarão impunes”.
Para o Presidente angolano, “o problema é que dantes havia corrupção e impunidade, essas duas categorias estavam praticamente casadas. Nesta nova era, se houver corruptos – e admito que possa haver - não haverá impunidade. Ou não é descoberto, ou se for descoberto não haverá impunidade”.
Lourenço lembra que criou no seio do MPLA e antes de assumir a Presidência, acompanhou “tudo o que foi sendo feito de bom e de mau pelo meu próprio partido”.
Luta não é contra quem quer que seja
"Acabei por ter oportunidade de ter a dimensão real do quanto a corrupção em Angola representava", afirma, garantindo, no entanto, que essa luta não é contra quem quer que seja.
“Acho que a afirmação de que é uma perseguição à família do anterior Presidente não colhe” diz João Lourenço, lembrando que o combate tocou em ministros, generais e cidadãos comuns, em referência ao afastamento de José Filomeno dos Santos e de Isabel dos Santos dos cargos de chefia e os processos que enfrentam na justiça..
“Então se se toca em ministro, em generais, não se toca em cidadãos que – mesmo sendo filhos de quem são – não deixam de ser cidadãos comuns?”, questiona o Presidente, para quem esse é um combate para vencer.
“Se não desisti é porque estou preparado para a luta. Sei que não estou sozinho e, por não estar sozinho, sinto-me estimulado a liderar esta luta”, reitera Lourenço que admite ter “nervos de aço suficientemente fortes para levar este combate até ao fim”.
Caso Manuel Vicente sem sequelas
Quanto às relações com Portugal, Lourenço diz que “estão no topo da montanha”, mas há muito mais que se pode fazer.
O caso Manuel Vicente ficou para trás e não há sequelas, principalmente depois de se ter superado o “incumprimento de um acordo entre Estados”.
“Para Angola esta questão foi relevante porque estávamos perante o incumprimento de um acordo entre dois Estados e dois Estados que se querem bem. Havia necessidade de uma das partes recordar à outra que temos um acordo que precisa de ser cumprido. Felizmente, o bom-senso acabou por vencer e esse momento difícil passou rapidamente e não deixou sequelas”, relata Lourenço que aborda várias questões, como a dívida a Portugal que está a ser paga e o será na totalidade.
O Presidente angolano é peremptório ao dizer que a Sonangol irá manter-se apenas na extração e a comercialização de petróleo e que, portanto, vai ficar na Galp e no BCP Millenium.
Lourenço reconhece a excelência das relações pessoais entre ele e o Presidente português, Marcelo Rebelo de Sousa, “apesar da diferença de idade”, o que para é importante porque ajuda no fortalecimento entre os Estados.
Rebelo de Sousa inicia hoje uma visita de quatro dias a Angola que o levará a Luanda, Huambo e Benguela e que coincide com o terceiro mandato como Chefe de Estado.