O presidente do MPLA, partido no poder em Angola, desafiou os jovens assumirem os cargos no partido, apelou à unidade interna e condenou qualquer tentativa de divisão, ao discursar nesta segunda-feira, 26, em Luanda, numa reunião com cerca de 2.700 primeiros secretários dos Comités de Ação do Partido (CAP).
Na sua intervenção, João Lourenço também acusou a oposição de estar por trás da destruição de bens públicos, mas enfatizou a importância da renovação na liderança do MPLA, com a inclusão de mais jovens.
Numa leitura ao discurso de Lourenço, o analista político Rui Kandov diz que um terceiro mandato de Lourenço está fora de questão, enquanto o jurista Joaquim Jaime afirma que a renovação da liderança do MPLA deverá acontecer apenas no congresso de 2026.
No encontro à porta fechada, o presidente do MPLA e responsáveis partidários de base discutiram a renovação no partido, tendo Lounreço desafiado os jovens a assumirem posições de liderança no MPLA e no país.
“Vamos, por isso, continuar a apostar nos nossos jovens, prepará-los e dar-lhes todas as oportunidades de ascenderem até onde suas capacidades permitirem, inclusive para a assunção do mais alto posto de Presidente da República”, disse.
Na eleição para renovação de cargos, João Lourenço condenou o que chamou de tráfico de influência na promoção de militantes a cargos e defendeu critérios justos e transparentes para essas nomeações.
Ele desafiou os líderes locais a dialogarem com as pessoas, "em vez de ficarem em reuniões", e a irem lá onde o Governo não resolveu os problemas.
O analista político Rui Kandov considera que, ao fazer a defesa da renovação do partido, João Lourenço deixou de fora um eventual terceiro mandato presidencial e que já sinalizou a sua preferência por quem poderá sucedê-lo.
“O Presidente João Lourenço diz claramente, ou passa um indicador, de que a sua preferência é para um quadro com perfil jovem. E, neste particular, eu penso que o Presidente João Lourenço foi feliz, porque, na verdade, toda essa geração que faz parte daqueles que conduziram o país até os dias de hoje, precisa, necessariamente, ser renovada", aponta Kandov, que reforma a tese de que "a descrença do próprio partido está um pouco associada a esses quadros que estiveram envolvidos em diferentes momentos importantes do país, mas é preciso olhar para o futuro, é preciso olhar para a frente e não são mais esses quadros”.
Já o jurista Joaquim Jaime diz ser pouco provável que haja renovação da liderança do MPLA ou candidaturas alternativas no congresso extraordinário de dezembro deste ano, uma vez que o tema não está na agenda.
“Aqueles militantes que têm estado a movimentar-se um pouco pelo país, apresentando a sua possível pretensão de liderar o MPLA, eu julgo que hoje receberam este recado e com muita atenção, parem de fazer essas movimentações porque terão de aguardar até 2026, por ocasião da realização do Congresso Ordinário, que vai coincidir estatutariamente com o fim do mandato na liderança do partido do presidente João Lourenço. Isto, pelo menos, ficou claro”, aponta Jaime.
Aquele jurista e analista político também destaca o facto de o encontro ter evidenciado uma sintonia de João Lourenço com as bases do MPLA e seu compromisso em manter a unidade partidária.
Entretanto, o militante do MPLA, Aniceto Cunha, realça que o encontro é inédito e que além de dar a possibilidade de cada um dos secretários se expressar livremente em até três minutos serviu igualmente para a interação entre o líder do partido e os militantes de base.
“Há pensadores que dizem que a própria democracia representativa está em crise, mas aqui a novidade é que houve, digamos, uma liberdade de quem quisesse participar, deu-se a oportunidade para cada um que pudesse intervir com uma síntese de três minutos. Todos pudessem apresentar o seu ponto de vista, questionamento e sugestões", diz Cunha.
Na sua intervenção, João Lourenço concluiu que, com as reformas em curso, o combate contra a corrupção, a criação de um melhor ambiente de negócios, a diversificação da economia, o sucesso do programa com o Fundo Monetário Internacional, a maior abertura ao mundo, ele vê "um futuro risonho para o nosso país, Angola".
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