O Presidente angolano reconheceu que o Estado pode ter sido lesado em valores superiores aos 24 mil milhões de dólares por ele anunciados porque devem surgir "números bem maiores" à medida que a justiça fizer o seu trabalho.
João Lourenço fez esta afirmação sem avançar mais números por agora no discurso sobre o estado da Nação que abriu nesta quinta-feira, 15, o ano parlamentar, no qual destacou as realizações do seu Governo e considerou que seria uma irresponsabilidade realizar as eleições autárquicas em plena pandemia.
Na segunda-feira, o presidente da Unita, Adalberto Costa Júnior tinha afirmado que os números dos desvios de fundos relevados por João Lourenço ao jornal Wall Street Journal eram bem maiores e desafiou o Presidente a revelá-los.
Lourenço voltou a defender a luta contra a corrupção ao destacar a aprovação de diplomas fundamentais e os vários processos crime e cíveis em curso, alguns deles já transitados em julgado.
Em relação à entrevista dada no domingo ao Wall Street Journal, em que afirmou que 24 mil milhões de dólares foram desviados, ele afirmou “pelo menos por que à medida que se vão aprofundando as investigações de alguns processos e seus protagonistas, vão se descobrindo coisas novas, sendo muito provável que mais tarde se venham a anunciar números bem maiores do que estes".
O Presidente lembrou que aquele valor é superior à dívida de Angola com seu principal credor, a China.
Outro tema de destaque no discurso de Lourenço foi a realização das eleições autárquicas, tendo negado qualquer intenção do seu Governo em adiá-las, mas sublinhou que realizá-las em 2020 “seria irrealista e de uma grande irresponsabilidade”.
Entretanto, ele não avançou qualquer data e insistiu que a realização do pleito só será possível depois da conclusão do pacote legislativo eleitoral.
Pandemia e economia
João Lourenço destacou ainda os efeitos provocados pela pandemia da Covid-19 na economia e assegurou que o seu Governo vai continuar a apostar na política de desenvolvimento e diversificação económica, bem como na estabilidade macro-económica.
Com o mercado de trabalho " fortemente abalado" pela pandemia, João Lourenço afirmou que 19 mil trabalhadores foram contratados nos primeiros seis meses do ano, embora tenham sido registados sete mil despedimentos e mais de 14 mil suspensões dos vínculos laborais, em especial no setor dos serviços, comércio e indústria, educação e construção civil.
O programa de privatizações foi igualmente abordado pelo Presidente angolano, que indicou que dos 195 activos, 40 estão em fase de concurso público e 14 já foram privatizados, tendo o Estado embolsado cerca de 31 mil milhões de kwanzas, aproximadamente 37 milhões de dólares.
No domínio social, Lourenço informou que 1.200 projectos aprovados do Programa Integrado de Intervenção nos Municípios (PIIM) estão em execução.
Política externa
Na polícia externa, o Presidente reiterou que o seu Executivo continua a atribuir particular importância ao seu relacionamento multilateral, principalmente na União Africana, as Comunidades de Desenvolvimento da África Austral, Económica de Estados da África Central e dos Grandes Lagos.
João Lourenço reiterou que Angola assumirá a presidência da Comunidade de Países de Língua Portuguesa (CPLP) em 2021 e lembrou que formalizou a sua candidatura às organizações internacionais da francofonia (OIF) e inglesa (Commonwealth).
O Chefe de Estado angolano reafirmou ainda a aposta na inserção de quadros angolanos em organizações regionais e internacionais.