A anunciada medida de supressão de vistos aos cidadãos da União Europeia pelo Governo de Cabo Verde está a provocar acesas discussões no país.
O Executivo de Ulisses Correia e Silva pretende implementar a medida a partir de Maio, com o objectivo de aumentar o fluxo de turistas.
O antigo primeiro-ministro José Maria Neves, do PAICV, acredita que esta tomada de posição unilateral por parte de Cabo Verde” põe em causa um dos pressupostos da Parceria Especial com a União Europeia que, a longo prazo, deveria trabalhar a mobilidade dos cidadãos de ambos os lados”.
Desta forma, reforma Neves, o país “perde argumentos na possibilidade futura de alargamento do espaço Schengen” ao arquipélago.
O PAICV entende que a questão merecia uma maior análise e debate no seio da sociedade.
O principal partido da oposição defende que uma medida dessa devia trazer mais vantagens para o país e permitir também a reciprocidade para os cidadãos cabo-verdianos que pretendem viajar para a Europa.
O Governo, por seu lado, justifica a isenção de vistos aos cidadãos europeus, com a necessidade de aprofundar, desenvolver e reforçar a parceria com a União Europeia.
Ulisses Correia e Silva diz que absurdo “é não compreender o alcance desta medida”, que na opinião do primeiro-ministro, “só vai trazer ganhos” para o arquipélago.
Para o analista político Corsino Tolentino um assunto dessa natureza “precisa de uma discussão mais aprofundada antes da sua divulgação”.
O antigo diplomata e investigador considera que “a medida até pode ser positiva, mas carece de explicação”.
Já o analista Daniel Medina não vê problema nenhum na medida anunciada pelo Governo, e realça que isso pode contribuir para aumentar o fluxo turístico no país.
Medina considera, no entanto, que “o Executivo devia consensualizar melhor a ideia, antes de a anunciar”.
PR critica
Antes, o Presidente da República já tinha deixado recados às duas partes, numa mensagem publicada na sua página pessoal do Facebook.
Jorge Carlos Fonseca sublinhou a importância da boa comunicação das decisões políticas e alertou para os riscos das reacções precipitadas.
"Há medidas que, anunciadas descuidadamente ou sem uma boa comunicação, surgem como sem sentido ou inadequadas de todo. Explicadas, contextualizadas, pela via de uma eficiente comunicação, podem reaparecer como aceitáveis ou razoáveis", escreveu Fonseca, sem mencionar nomes nem o assunto.
"Do mesmo modo, há reacções que, num primeiro momento, suscitam a adesão pronta, emocionada e entusiástica de muitos; porém, num momento outro de mais reflexão, correm o risco de se traduzir numa envernizada e inconsistente imprudência ou precipitação", concluiu o Presidente.