A revolta dos cerca de 100 funcionários da Cruz Vermelha de Angola (CVA), agora sem salários há 10 meses, levanta interrogações sobre o curso de um processo instaurado à empresária Isabel dos Santos, presidente da organização, por suspeita de fuga ao fisco na importação de bens que estarão ao serviço da sua operadora de telefonia móvel, a Unitel.
Aberto pela Direcção Nacional da Polícia Económica, que passou para a tutela do Serviço de Investigação Criminal (SIC), o processo é assente em suspeitas de que a antiga administradora da Sonangol terá usado a Cruz Vermelha, que beneficia de isenção fiscal, para adquirir meios como viaturas, material informático e geradores para a sua empresa.
Trata-se do processo nº 269, ao abrigo do qual a Polícia Económica solicitou que as 18 delegações provinciais da Cruz Vermelha apresentassem um inventário dos bens - móveis e imóveis - que possuem, conforme indicam documentos em posse da VOA.
Essas informações permitirão confrontar com o que chegou ao país em nome da CVA entre 2009 e 2016, segundo secretários provinciais, que questionam a não realização de assembleias para renovação de mandatos.
De acordo com as mesmas fontes, que optaram pelo anonimato, estas suspeitas, a par da crise de salários numa organização com papel relevante na assistência humanitária, retirou credibilidade a Angola junto de parceiros internacionais, com realce para a Cruz Vermelha Internacional.
A acompanhar o assunto, o jornalista e activista Rafael Marques aconselha Isabel dos Santos a colocar o lugar à disposição porque tem o mandato expirado
“A sua saída permitiria relançar a Cruz Vermelha, com um plano de acção, tendo em conta a sua importância no apoio humanitário em várias zonas do país. Ela foi, numa tentativa de mostrar que tem veia filantrópica, para usar o nome da CVA em benefício próprio. Acabou por destruir a organização’’, aponta Marques.
A investigação, dizem as nossas fontes, terá descortinado prejuízos para o Estado superiores a 30 milhões de dólares norte-americanos.
A VOA não conseguiu obter uma reacção do secretário-geral da Cruz Vermelha de Angola, Walter Quifica, acusado de dar guarida a engenharias que prejudicam os funcionários.
Na Unitel de Isabel dos Santos, foi-nos solicitado um formulário com todas as questões como condição para um eventual pronunciamento.